Copom decide manter a taxa Selic em 13,75% pela 7ª vez seguida
Taxa Selic está no mesmo patamar desde agosto passado; comunicado do BC fala em "paciência"
Guto Abranches
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa referencial de juros do Brasil, a Selic, no mesmo patamar que ocupa desde agosto do ano passado: 13,75% ao ano.
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Agora, a taxa que é o ponto de partida para balizar os custos de empréstimos e financiamentos de bancos e corretoras só poderá ser alterada na reunião dos dias 01 e 02 de agosto. A decisão dos diretores do BC foi unânime e levou em conta as condições de inflação que já acusam desacelerações relevantes, inclusive dos núcleos dos indicadores que até recentemente ainda se mostravam "resilientes". Na leitura do mercado, o sinal leva a pensar de maneira firme em corte efetivo da Selic na próxima reunião.
Comunicado
Confira aspectos ressaltados pelo Copom para a decisão de manter a Selic inalterada.
- O ambiente externo se mantém adverso, ainda que com revisões positivas para o crescimento do ano. Apesar da atenuação do estresse envolvendo bancos nos EUA e na Europa, a situação segue demandando monitoramento.
- Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. O crescimento acima do esperado no primeiro trimestre refletiu principalmente o forte desempenho do setor agropecuário. Não obstante o arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre. As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,0% em 2023 e 3,4% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,0% em 2023 e 4,6% em 2024.
- Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
Repercussões
A manifestação por parte da diretoria do Comitê frustrou até certo ponto o meio financeiro; não pela manutenção da taxa nos níveis onde já estava, mas pela ausência de uma sinalização quanto a um possível corte da Selic na reunião do início de agosto. Mas há leituras para todos os gostos. Confira;
André Perfeito, economista e consultor - Quanto ao comunicado não aliviou em nada o tom das últimas reuniões e enfatiza que não basta inflação corrente em queda, mas expectativas ancoradas. Até aí nenhuma surpresa, mas me parece que o BCB está prisioneiro da sua retórica e arma para si uma situação difícil de desatar. Praticamente abandonou o protagonismo da decisão dos juros para deixar em stand by aos desígnios das projeções, projeções essas de mercado que tem errado de maneira significativa desde o início do ano.
"Que pese a retirada do trecho onde apontava que poderia subir os juros (numa aparente boa fé com o momento atual), mas volta a ficar claro que a atual diretoria irá insistir em abrir mão de decidir, terceirizando "tecnicamente" para as expectativas de mercado. Algo um tanto diferente do estilo desta mesma diretoria, que cortou os juros mais que o esperado pelo mercado, que subiu mais que o esperado pelo mercado e está mantendo de lado por mais tempo que o esperado pelo mercado. Se mantiverem a coerência com a estratégia e com o conjunto de variáveis financeiras atuais, provavelmente irá cortar "mais que o mercado espera". Dito isso mantenho a perspectiva de corte de juros na próxima reunião com uma afrouxamento inicial de 50 pontos base e levando a SELIC a 11,75% ao final do ano" - André Perfeito, economista
Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez - O comunicado no geral manteve a essência "dura". Porém ao (1) retirar o trecho de voltar a subir juros,
(2) substituir "vigilante" por "cautela e parcimônia" (0,25 pp) e (3) ajustar o tempo verbal associado "a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado" de maneira a não se referir mais ao futuro:
"Apesar da barra alta, abriu a porta para o ciclo de cortes com 0,25 pp (cautela e parcimônia), onde os dados irão apontar se será na reunião de agosto ou setembro...Considerando todos esses pontos, o Banco Central parece estar olhando mais pra reunião de setembro, enquanto o mercado parece estar mais convicto com a próxima reunião de agosto [ para cortar os juros]" - Daniel Cunha, BGC Liquidez
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos - Consideramos que o comunicado da autoridade foi duro (hawkish). No parágrafo prospectivo, apesar de ter removido a menção à possibilidade de retomada de alta da Selic, o BC promoveu diversas alterações reafirmando a perspectiva de estabilidade na taxa. O BC reconheceu a melhora da conjuntura, mas afirmou que o processo desinflacionário 'tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia'" .
A autoridade afirmou que "conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas."
"Com o reforço do peso sobre a desancoragem das expectativas como fator para corte de juros, sobe a importância da reunião do CMN dia 29 de junho. Hoje estima-se que o mercado trabalhe com 50bps de gordura se a meta for estabelecida em 3,0%, segundo pesquisa recente, o que torna mais longínquo a perspectiva para corte, visto que se suspeita que traz-se à valor presente uma futura leniência no combate inflacionário. Por enquanto, mantemos nossa perspectiva de que o ciclo baixista de juro iniciar-se-á apenas em 2024" - Étore Sanchez, Ativa Investimentos
Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital - O comunicado do Copom trouxe elementos mais duros do que nossa expectativa (...) Mantiveram as expressões de cautela e parcimônia, em linha com a nossa expectativa. A frase sobre a estratégia de manutenção da taxa de juros por período prolongado passou de "será capaz" para "tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação". Essa alteração confere que uma etapa foi cumprida, mas ainda há uma dependência dos dados para que se veja espaço para corte de juros.
"A comunicação é compatível com flexibilização em agosto, mas o BC optou por assegurar graus de liberdade e não se comprometeu com queda de juros iminente. Para o corte em agosto, teremos de ter a confirmação da meta de inflação em 3,0% na reunião do CMN e a continuidade de bons resultados na inflação corrente e na pesquisa semanal do Focus. Esperamos que as condições permitam, ao fim, um corte de 0,25% em agosto" - Débora Nogueira, Tenax Capital
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