Falas de Lula contra Banco Central são "tiro pela culatra", diz economista
Felipe Salto orienta esquerda a parar de fritar Campos Neto e seguir Haddad
Roseann Kennedy
A dinâmica da inflação neste início de ano já permitiria iniciar a redução de juros no país, na visão do economista Felipe Salto. No entanto os atritos políticos, levantados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por integrantes do PT e do Psol contra o Banco Central (BC) dificultam a queda da Selic (taxa básica de juros).
"Quando a gente olha para economia e para os fatores estruturais, a inflação mostra já uma dinâmica que permitiria iniciar a redução. Isso não acontece porque há uma série de ruídos gerados na política, declarações contra a independência do Banco Central e coisas do tipo, que acabam prejudicando", afirmou em entrevista ao SBT News.
Salto destacou que é dever do Banco Central acompanhar todos os riscos que possam produzir efeito sobre a decisão de baixar, manter ou aumentar a taxa de juros, atualmente em 13,75%. Ele ressalta que o presidente da República tem direito a opinar sobre a economia, mas diz que as críticas recentes geraram efeito contrário ao desejado.
"Quando o presidente Lula vem a público dizer que o Banco Central independente não gerou nenhum ganho, isso acaba turvando as expectativas no mercado, o resto do mundo olha com desconfiança também, e acaba afetando também o dólar, o que prejudica a inflação. Evidentemente que o presidente tem direito de falar sobre os juros e a economia, mas é preciso muita cautela, porque o peso da palavra dele é muito grande e acaba gerando aquele tiro que sai pela culatra. O juro mais baixo, que todos nós queremos, não encontra lugar num ambiente marcado por esse tipo de sinalização", analisou.
Nesta entrevista, Felipe Salto destaca que o grande desafio no momento é o de promover um ajuste fiscal e coordenar a ala política do Governo numa direção que respeite o Banco Central. O economista elogia o pacote apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e diz que o presidente do Bacen, Roberto Campos Neto, está adotando as medidas necessárias. Para ele o conselho "sigam Haddad e parem de fritar Campos Neto" sintetiza bem a situação.
Assista a íntegra da entrevista: