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Economia

Crescimento da economia surpreende e leva a revisões das contas para o ano

Volta potente de atividades presenciais reafirma serviços como motor do PIB; setor cresce 1,3% no 2º tri

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Economia brasileira
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A surpresa foi até pequena -- numericamente --, mas não deixa de ser surpresa. A média do mercado calculava uma alta para o Produto Interno Bruto (PIB) no 2º trimestre do ano ao redor de 0,9%. Isso quando comparado ao período de janeiro a março de 2022. Esse 0,3 ponto percentual a mais, para alguns observadores da economia, ainda pode ser considerado dentro das expectativas. Mas há um clima de mais otimismo não explícito que em alguns casos caminha junto com a frieza dos números. E aponta até para revisões para cima das estimativas do fechamento do ano. 

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"Alguns indicadores antecedentes davam sinais [vendas no varejo, desemprego caindo, indicações sobre crédito melhores] e o número acabou vindo dentro do esperado, pouca coisa melhor", aponta Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria e ex-presidente do Banco Central. Ele avalia que a recuperação da atividade no pós-pandemia ainda tem efeitos benignos sobre o crescimento, sobretudo quando se considera o setor de serviços. Viagens aéreas e terrestres, reabertura de hotéis e restaurantes amparadas pelo retorno presencial dos consumidores em grande proporção são exemplos concretos. Não à toa, este segmento subiu 1,3% de abril a junho, sobre 1% que já havia crescido de janeiro a março deste ano. E serviços responde hoje por seguros dois terços da economia brasileira. Daí o impulso. Inclusive por acelerar a retomada do emprego. "Ele [o setor de serviços] emprega mais gente, emprega mais pessoas informais ou por conta propria do que a indústria, e é uma dinâmica que ainda continua. Provavelmente no terceiro tri para essa onda. Aí pode haver uma desaceleração no crescimento do setor", calcula Loyola. 

Daqui para frente

A apreensão e a dúvida quanto ao segundo semestre estão mesmo colocadas. A força do setor de serviços, que retoma as atividades presenciais, divide opiniões entre os que acreditam que ainda há contribuição para o crescimento e aqueles que entendem que esse potencial está se esgotando. A conferir. Mais concretamente, o que a economia já propiciou em termos de geração de empregos e os reflexos desta recuperação tendem a ser mais duradouros. Ou seja, mais gente está empregada e, a se imaginar que continue empregada, isto terá efeito sobre a economia, mesmo que o volume de novos contratados ou de gente ocupada não cresça tão expressivamente. E é gente empregada o fator que muitos analistas enxergam como decisivo para o impulso à economia, via serviços.

"O setor de serviços permaneceu em trajetória de recuperação bastante sólida no trimestre passado, puxado especialmente pela reabertura econômica e recuperação do mercado de trabalho. O PIB do setor terciário situa-se cerca de 3,7% acima dos níveis pré-pandemia", aponta Caio Megale, economista-chefe da XP. Pelas contas da casa de investimentos, o segundo semestre não deve espelhar os primeiros seis meses do ano quanto à intensidade do crescimento. Mas terá como colaborar. "Continuamos a esperar desaceleração da atividade doméstica no semestre corrente. No entanto, a recuperação firme das condições do mercado de trabalho, combinada a estímulos fiscais de curto prazo, deve permitir um arrefecimento econômico suave", pondera Megale. Para a XP, o 3º tri cresce 0,4% sobre o resultado de agora. Ou seja, o período vai assistir a uma desaceleração mais suave do ritmo, em lugar do tombo que chegou a ser previsto antes.  

Destaques 

Pela ótica dos analistas, vai ainda pesar para o bem o pacote de benefícios sociais viabilizado pelo governo. Auxílio Brasil, vale-gás e etc darão amparo exatamente aos segmentos econômicos que se valem em boa parte do poder de compra da camada da sociedade diretamente beneficiada pelos programas. E ainda há a gasolina e demais combustíveis que, baixando, trazem a inflação para baixo com impostos reduzidos. É a muito provável continuidade do movimento que levou, já no resultado do 2º tri, a demonstrar um crescimento forte do consumo das famílias (2,6%) sobre o trimestre anterior. E mais. Do lado das pessoas jurídicas há um paralelo a ser considerado. A Formação Bruta de Capital Fixo, que pode ser entendida como investimentos das empresas para aumentar a produção, subiu nada menos que 4,8% entre abril e junho, na comparação com o 1º tri. Na observação da XP, "tanto o consumo de bens de capital quanto o setor de construção civil cresceram no período". Aqui vale o destaque: no ramal indústria, o segmento da construção civil teve mesmo um aumento mais forte do que o esperado (2,7%) no 2º tri em comparação com os primeiros três meses do ano. O PIB da indústria, no geral, subiu e bem (2,2%), com expansão em todos os segmentos internos.

Continuidade

"Não é pouca coisa um crescimento 0,3 ponto percentual acima do esperado", pontua Luiz Fernando Figueiredo, CEO da Mauá Capital. Primeiro porque é um trimestre de crescimento sobre outro igualmente positivo. Essa " esteira" de resultados positivos acaba constituindo um "todo" ainda mais robusto, comentam os analistas. A rigor, diante de estimativas que, inicialmente, apontavam para desempenho até negativo ao longo de 2022, as contas voltam à mesa. Não são poucas as instituições que já falam em revisar as projeções inclusive para o fechamento de 2022 como um todo. A XP, que tem nas contas uma alta de 2,2% para o PIB no final do ano, divulgou relatório após o resultado do 2º tri, assumindo explícitamente que os cálculos têm viés de alta e que uma revisão dos números se dará proximamente. A Mauá Capital, que trabalhava com crescimento de 2,6% para o ano até o presente momento, também já está se movimentando.

" A gente já já vai revisar nossos números. Pode bancar que nossa estimativa para este ano vai girar em torno de 3%", diz Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Capital.  

Gustavo Loyola, da Tendências, revela que a consultoria também já está olhando para os dados e os números para revisar as estimativas de crescimento do ano, o que deve acontecer nos próximos dias. Até a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) já botou as contas na mesa. Após o resultado do 2º tri, a federação ampliou sua expectativa do ano de 1,3% para nada menos do que 2,6%. 

Aposta certa

"A perspectiva de crescimento econômico desde o início deste ano tem sido subdimensionada pelos analistas", afirma um gestor que simplesmente cravou a alta de 1,2% de agora. Nem mais nem menos. Jason Vieira, economista chefe da Infinity Asset, vê uma fila de fatores a considerar para enxergar a recuperação econômica pelo ângulo mais otimista. "Uma série expressiva de investimentos foram contratados em 2021 e executados em 2022. Unindo a recuperação econômica inercial aos auxílios, era natural que o PIB continuasse a performar positivamente no período."

Ainda que em meio a alguma surpresa mais positiva do que o mercado imaginava, o tema do equilíbrio das contas reaparece. Atenção redobrada ainda mais para um período pós-eleitoral que imagina-se difícil para o próximo governo, seja ele qual for. "Os excessos de agora e as previsões de continuidade, por exemplo do pagamento dos R$ 600 de auxílio no ano que vem, abrem um buraco nas contas que vão refletir em estados e municípios também", posiciona Gustavo Loyola. É dos pontos mais salientes a provocar debate entre os observadores. Mas também já há opiniões mais animadoras. "A percepção tem sido pior do que a própria realidade", diz Luiz F. Figueiredo. "O fiscal é muito menos desafiador do que se pensa: sim, vai haver necessidade de acomodar os R$ 600 [do auxílio], algum aumento no funcionalismo público... mas isto não significa que vai haver um déficit necessariamente maior. Sim, é possível, mas não é obrigatório", finaliza.

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