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Economia

"Se tudo der certo, 2023 vai ser um ano ruim", diz Celso Toledo da LCA

Para consultor de grandes empresas, não será desta vez que o Brasil vai crescer ao ritmo de 3,5% ou 4%

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Celso Toledo da LCA
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O ano está só na metade e já há contas feitas na ponta do lápis que revelam um horizonte pessimista para a economia brasileira. No curto e no médio prazo. Isso impacta a vida dos brasileiros comuns e das grandes empresas estabelecidas aqui. O consultor econômico Celso Toledo, da LCA Consultores, conhece de perto as preocupações e principalmente as dúvidas dos empresários. Há mais de 20 anos ele é contratado por clientes pessoas jurídicas que se baseiam em suas análises na hora de tomar decisões. Sobretudo em momentos como agora, em que há mais vento contra do que a favor soprando as velas da economia. 

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"As empresas estão fazendo planejamento futuro com expectativas bem reduzidas", diz o consultor em conversa exclusiva ao SBT News. Até porque, explica, passada a turbulência de um ano eleitoral em meio a uma economia que, pra dizer o mínimo, patina sem oferecer condições para um crescimento mais expressivo, vai ser a hora para recomeçar. "Pode contar que o ano de 2023, o primeiro do novo governo seja ele qual for, vai ser dedicado a arrumar a casa. Só depois dessa arrumação é que se poderá pensar em algum avanço", avalia. 

Veja a seguir os principais trechos da entrevista com Celso Toledo.

O que vai pela cabeça dos empresários neste início de segundo semestre?
Os empresários têm a primeira metade do ano para fazer planejamento para os três anos seguintes, por exemplo. A segunda metade é fazer o orçamento do ano imediatamente posterior. Tudo isso, claro, monitorado mês a mês. E, neste ano, para onde se olhe, as expectativas são bem ruins. Todo mundo está trabalhando com a ideia de que têm de se preparar para quatro anos que serão muito difíceis. Se tudo der certo, 2023 vai ser um ano ruim. Na melhor das hipóteses.

Nada de crescimento?
Algum crescimento se consegue. Mas não será desta vez que o Brasil vai dar aquela destravada. Não será por enquanto que o país vai conseguir crescer aqueles 3,5% ou até 4%. Na prática, o Brasil não cresce significativamente, de maneira continuada, há muito tempo. A última vez foi surfando o boom das commodities, lá em 2007/2008. Depois voltamos aos insuficientes 2% em média que têm caracterizado sucessivas "décadas perdidas". 

Nenhuma oportunidade?
O cenário desafiador é pior para uns do que para outros. Por exemplo, num contexto de inflação descontrolada, empresas com poder de mercado conseguem defender bem suas margens. Além disso, há oportunidades que são relativamente "descoladas" da conjuntura: o setor do agro é estruturalmente competitivo, o agro voa, e há coisas acontecendo na área de infraestrutura em energia, transportes. São setores que têm potencial de crescimento independentemente de qualquer governo. 

Mas isso não é pra todo mundo, certo?
Não, não. No geral um cenário de baixo crescimento acaba prejudicando todo mundo. E o viés 'curtoprazista', que nos últimos governos (exceto Temer) tem se cristalizado e deve continuar, torna as perspectivas de crescimento medíocres.

O país vive um ano de eleição presidencial. Em que medida isso está influenciando?
Neste momento tudo passa também pela política. Ou por uma certa 'ausência' de política. Veja: estamos a 100 dias das eleições. Simplesmente não existe debate de propostas, de programas de governo. Os dois candidatos à frente nas pesquisas -- tudo indica que um deles deve ganhar a eleição -- não deixam claro em qual direção vão olhar. Não há pistas sobre quem será ministro, qual a linha de pensamento pra orientar a economia, por exemplo. Aí o mais provável são as decisões improvisadas. É tudo só puxadinho, e não planejamento. É por essas e por outras que o país tá retrocedendo, não avançando. 

Uma atitude disseminada?
Neste exato momento tem senadores que, em nome de uma lógica eleitoral de curto prazo, assinam um 'troço' que é mortal para o país. 

Como assim?
Essa 'PEC do desespero' é um absurdo. Você mexe, ou pretende mexer, na Constituição. Então é assim: tudo o que foi escrito antes, não vale. E a partir dessa ideia passa um cheque em branco garantido por um dinheiro que não se tem, que não existe. Para quem assumir a Presidência no ano que vem, seja quem for, é um problema enorme, é praticamente abandonar a política de limites para os gastos públicos. É problema para muito tempo.

Você consegue vislumbrar quem vai, afinal, pagar essa conta?
Olha, os efeitos da irresponsabilidade de agora podem durar muito tempo. Essa conta que está sendo estourada agora compromete a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) de 2050, sem exageros. Bota 28 anos nisso. Fica visível que é um risco enorme para as futuras gerações. Fazer isso é rifar o futuro do país.

Futuro que começa agora com a gente olhando lá fora e vendo um cenário daqueles. Até recessão aparece no horizonte cada vez mais perto...
O cenário não é bom, mas não necessariamente será desastroso. A recessão mundial tem caráter corretivo. O Brasil tem uma boa posição externa, exportamos o que o mundo quer comprar e, bem ou mal, somos experts em sobreviver em um ambiente negativo para os negócios. Vamos em frente.

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