Indústria desacelera em boa parte do mundo, mostram bancos
Guerra na Ucrânia e tolerância zero para a covid adotada pela China deixam empresários cautelosos
Pablo Valler
De novo, em boa parte do mundo, as indústrias desaceleraram. De acordo com a instituição financeira S&P Global, o Índice de Gerentes de Compras (no inglês, PMI), que calcula a manufatura de grandes empresas na zona do euro, continua longe dos 100 pontos. Aliás, beteu o menor valor desde meados de 2020, com 54,6 pontos em maio. Em abril atingiu 55,5.
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Na Grã-Bretanha, a atividade teve sua menor expansão desde janeiro de 2021. Na França, outras pesquisas mostram como políticos tem dificuldade em formulador estratégias para driblar a inflação sem suficar a atividade econômica. Problemas observados também no Japão e na Malásia.
Ainda na Ásia, a chinesa Caixin/Markit divulgou que o PMI mostrou uma leve recuperação no mês que passou, ficando em 48,1 pontos. Em abril foram 46. Apesar disso, analistas não esperam uma recuperação rápida como no início de 2020, dizendo que os temores de novos surtos de covid-19 continuarão a pesar na confiança e na demanda.
"As interrupções nas cadeias de suprimentos e na distribuição de mercadorias podem diminuir gradualmente à medida que o bloqueio de Xangai termina. Mas não estamos fora de perigo, pois a China não abandonou completamente sua política de zero covid", disse Toru Nishihama, economista-chefe da Dai-ichi Life, Instituto de Pesquisa em Tóquio, no Japão.
"O aumento da inflação está forçando alguns bancos centrais asiáticos a apertar a política monetária. Há também o risco de volatilidade do mercado devido aos aumentos das taxas de juros dos EUA. Dadas essas camadas de riscos, a economia da Ásia pode permanecer fraca durante a maior parte deste ano", avaliou ele.
Brasil avança
O PMI industrial do Brasil avançou para 54,2 pontos em maio, após 51,8 pontos em abril, divulgou nesta quarta-feira a S&P Global. O resultado ? o mais alto em oito meses ? mantém o indicador acima do nível neutro, de 50 pontos, o que sinaliza expansão do setor.
Segundo a diretora associada de economia da S&P Global, Pollyanna de Lima, o crescimento observado em maio se deve a uma aceleração nos índices de novos pedidos, produção e emprego.
"Uma queda mais acelerada no índice de pedidos em atraso indica excedente de capacidade entre os fabricantes brasileiros e evidencia o fato de que o crescimento de novos pedidos continua aquém da produção", diz ela em nota. "Contudo, os fabricantes de bens contrataram mais trabalhadores em maio, em antecipação a uma evolução nas vendas. O sentimento predominante em relação às perspectivas de médio prazo é positivo, com quase 71% dos fabricantes prevendo níveis de produção mais altos nos próximos 12 meses."
De acordo com a S&P Global, houve aumento nos pedidos a fábricas pelo terceiro mês consecutivo, com a taxa de expansão mais significativa desde julho de 2021, assim como na produção. Diante da melhora nas vendas, nos pedidos de produção e do aumento nos esforços de estocagem, a compra de insumos entre os fabricantes brasileiros acelerou no ritmo mais intenso em oito meses.
O índice de preços de insumos, por sua vez, registrou um aumento acentuado, bem acima da média de longo prazo. A inflação se deve à falta de equilíbrio entre oferta e demanda, à volatilidade dos preços de energia, ao lockdown na China e à guerra entre Rússia e Ucrânia. O avanço foi um dos mais elevados em 16 anos, acrescenta Pollyanna de Lima.
* Com Agência Estado
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