Alvo de denúncia em licitação no Rio, Glock recebeu mais de R$ 76 mi do governo em 5 anos
TCU também indicou depósitos a Franco Giaffone; material enviado ao Congresso pode colocar representante da empresa em relatório final da CPMI do 8/1
Lis Cappi
Alvo de uma denúncia analisada pelo Ministério Público Federal (MPF) durante a gestão do general Walter Braga Netto enquanto interventor do Rio de Janeiro, a empresa armamentícia Glock recebeu mais de R$ 76 milhões do governo federal em um período de cinco anos. A informação consta em relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) encaminhado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, ao qual o SBT News teve acesso.
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O documento elaborado pelo tribunal analisou contratos firmados entre a empresa e o governo federal, e destaca que ela se tornou a principal fornecedora de armas e equipamentos para a Polícia Rodoviária Federal a partir de 2019. Entre os valores apurados estão o contrato que foi alvo de denúncia junto ao Ministério Público. A instituição cogitou reabrir o caso no último mês, mas optou por arquivá-lo novamente, com a justificativa de que não foram "verificadas irregularidades que justifiquem a instauração de ação civil pública", conforme consta em decisão obtida pela reportagem.
De acordo com a denúncia enviada ao MPF, as pistolas compradas sem licitação foram de .40 mm, e não seguiram recomendações corriqueiras das forças de segurança do estado, como a exigência de possuírem "Retém do Ferrolho Ambidestro" - adotado para que pistolas possam ser utilizadas com facilidade tanto por destros quanto por canhotos. Outras características recomendadas teriam beneficiado diretamente a empresa de armas austríaca, como o peso e tamanho das pistolas. A defesa de Braga Netto nega irregularidades no processo.
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Levantamento do TCU
Ao todo, os valores direcionados à empresa Glock America S.A entre 2019 e 2023 somam R$ 76.698.139,95. Os maiores recursos foram encaminhados durante a intervenção federal fluminense - com R$ 46 milhões - seguidos a contratos com a Polícia Rodoviária Federal, que alcançam os R$ 15,8 milhões. Outros contratos ainda foram firmados diretamente com o representante da empresa, Franco Giaffone, em repasses que somam os R$ 23,8 milhões.
Giaffone entrou no alvo da CPMI dos Atos de 8 de janeiro e pode ser citado no relatório final da comissão, a depender do entendimento sobre os documentos recebidos pelo colegiado. Entre as informações obtidas estão detalhes de movimentações financeiras e o sigilo telemático. Na reta final, a relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que fará o relatório, chegou a fazer novos pedidos relacionados ao representante da Glock, mas as solicitações não chegaram a ser votadas. O documento final será apresentado na próxima 3ª feira (17.out).
A Glock foi contatada para posicionamento a respeito dos pedidos da CPMI, além do contrato que foi alvo de denúncia junto ao MPF, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para posicionamento.
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