Discussão de kit covid é "delirante e contraproducente", diz Luana Araújo; assista
Para a médica, falar da cloroquina é o mesmo que escolher "de que borda da Terra plana vamos pular"
Gabriela Vinhal
A infectologista Luana Araújo, anunciada como secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde, mas não chegou a ser nomeada pelo governo, afirmou nesta 4ª feira (2.jun) que discutir o uso do "kit covid", composto por medicamentos ineficazes contra o coronavírus, como a cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, é o mesmo que debater sobre "de que borda da Terra plana vamos pular". A médica classificou ainda o debate como "delirante, anacrônico e contraproducente".
"Todos nós somos a favor de uma terapia precoce que exista. Quando ela não existe, ela não pode se tornar uma política de saúde pública. Essa é uma discussão delirante, anacrônica e contraproducente. Estamos na vanguarda da estupidez. É como se estivéssemos decidindo de que borda da Terra plana a gente vai pular. Não tem lógica", disse Luana, durante depoimento ao colegiado. A médica foi indicada pelo atual titular da pasta, Marcelo Queiroga. Mas, 10 dias depois, o ministério informou que ela deixaria o cargo. O motivo da demissão dela, contudo, não foi informado.
Questionada pelos senadores, Luana explicou que também não recebeu nenhuma justificativa para sua saída, porém, foi avisada por Queiroga que seu nome "não tinha sido aprovado". "Honestamente, não me foi comunicada a razão pela qual a minha nomeação não foi aprovada", disse a médica. E completou: "O ministro, com toda a hombridade que teve de me chamar, me chamou e disse que minha nomeação lamentavelmente não sairia e que meu nome não tinha sido aprovado".
A médica disse ainda que, quando assumiu a pasta, tentou contratar profissionais técnicos para auxiliar na coordenação das medidas de enfrentamento à covid-19. No entanto, devido à "politização incabível" da pandemia, não quiseram trabalhar para o governo de Jair Bolsonaro (sem partido): "Infelizmente por essa polarização esdrúxula, essa politização incabível, os maiores talentos que a gente tem para trabalhar nessas áreas não estavam exatamente à disposição para trabalhar na secretaria. Não queriam trabalhar".
Formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luana é pós-graduada pela Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos. Em junho do ano passado, Luana publicou uma crítica em relação ao uso da cloroquina e da ivermectina para o tratamento da covid. Os medicamentos não têm eficácia comprovada contra a doença, apesar de serem defendidos por Bolsonaro.
Veja reportagem do SBT Brasil: