Depoimentos à CPI confirmam "comando paralelo" no governo, diz Randolfe
Vice-presidente da comissão disse que há dois comandos: um baseado na ciência e outro no negacionismo
Gabriela Vinhal
Vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia e líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse ao SBT News nesta 3ª feira (11.mai) que os primeiros depoimentos ao colegiado confirmam a existência de um "comando paralelo" do governo federal no combate ao coronavírus.
"Existe um comando baseado na ciência, mas, em paralelo, há um comando sediado no Palácio do Planalto que baseia o enfrentamento da pandemia no negacionismo ou na tese da imunidade coletiva, da imunidade de rebanho. A tese parte do pressuposto de que não deve ter investimento em vacina, mas em cloroquina", disse Rodrigues.
Segundo o parlamentar, a oitiva do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, nesta 3ª, confirmou que houve uma reunião no Palácio do Planalto para discutir mudanças na bula da cloroquina -- remédio defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no tratamento precoce à doença, que não há evidência científica.
Contra corrupção
Membros governistas têm criticado a atuação dos senadores independentes e de oposição na CPI. Alegam, inclusive, que temas como o tratamento precoce servem de "cortina de fumaça" para outro foco de investigação da comissão, que seriam os repasses federais a estados e municípios.
Questionado, Rodrigues afirmou que é o grupo quem tem "obsessão" pelo medicamento, e disse que o colegiado vai investigar todos os casos de corrupção, "a começar pelos do governo federal". Antes da instalação da CPI, o Executivo tentou instaurar uma comissão para apurar desvios de governadores e prefeitos.
"Quem tem falado da hidroxicloroquina com insistência são os senadores governistas. Em toda reunião, tem uma obsessão pela cloroquina, falam o tempo todo dela. Nós só abordamos o tema quando percebemos que é uma parte dentro de uma estratégia de contaminar a todos", pontuou.
Aliados de Bolsonaro
Em depoimento nesta 3ª feira, Barra Torres alegou que, durante reunião no Planalto sobre alteração na bula da cloroquina, estavam o general Braga Netto -- então ministro da Casa Civil --, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e a doutora Nise Yamaguchi. Para todos eles já há requerimento de convocação para depor ao colegiado.
Inclusive, os três pedidos de oitiva da médica foram apresentados por senadores governistas: Ciro Nogueira (PP-PI), Jorginho Mello (PL-SC) e Marcos Rogério (DEM-RO). Rodrigues ironizou o trabalho da base aliada do Planalto e disse que ela "tem ajudado" no andamento dos trabalhos, porque é "colaborativa", e que "só tem a agradecer".
"Não foi nem preciso apresentar requerimento de convocação para Nise, porque todos os requerimentos já são deles. A base do governo tem nos ajudado muito, tem ajudado essa CPI, na condução das investigações. Tenho nada a destoar da conduta dos integrantes da base do governo. Tem dado importante colaboração para investigações", ironizou.