Vereadores e servidores são suspeitos de cobrar propina para favorecer empresas ligadas ao PCC
Escutas e análise de contas ajudaram Ministério Público de SP a identificar elos de agentes públicos com negócios da faccção para lavar dinheiro do tráfico
Ricardo Brandt
Escutas de monitoramento de telefones de lideranças do PCC e quebras de sigilos ajudaram o Ministério Público de São Paulo a descobrir os elos entre os três vereadores presos nesta terça-feira (16) aos "negócios" de lavagem de dinheiro da facção, com contratos de prefeituras, Câmaras Municipais e até com o estado.
+ Veja quem são os vereadores presos em ação contra negócios do PCC em prefeituras
A Operação Muditia prendeu 14 pessoas: três vereadores [de Cubatão, Ferraz de Vasconcelos e Santa Isabel], uma servidora pública, um advogado do Legislativo e empresários. Todos são suspeitos de envolvimento com fraudes e favorecimento a negócios usados pelo PCC, para movimentar dinheiro do tráfico.
São contratos de prestação de serviços de mão de obra terceirizada, como para limpeza, porteiros, vigilantes, entre outros, assinados com prefeituras e Câmaras de Vereadores do estado. São pelo menos R$ 200 milhões acordados em certamos de 13 cidades.
“O PCC tem diversificado sua atuação e exerce suas atividades em diversos ramos, inclusive no setor público”, disse o promotor de Justiça Yuri Fisberg, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Guarulhos, um dos coordenadores da operação desta terça-feira.
Corrupção
Os vereadores presos são de Ferraz de Vasconcelos, Cubatão e Santa Isabel. Há suspeita de corrupção. Todos com pelo menos três mandatos e posições de destaque no Legislativo.
Em Santa Isabel, na região metropolitana de São Paulo, o vereador Luiz Carlos Alves Dias (MDB) lançou recentemente sua pré-candidatura para prefeito da cidade.
Os agentes públicos, segundo o Gaeco, são suspeitos de receberem propinas para favorecer os negócios ligados ao PCC. Segundo o promotor, há pagamentos em dinheiro vivo e transferências via Pix em apuração. Em contrapartida, os investigados teriam agido para favorecer as empresas usadas pelos criminosos.
Além das fraudes para vencer os contratos, o esquema envolve corrupção e lavagem de dinheiro. O maior objetivo da facção seria a lavagem do dinheiro obtido com o tráfico internacional de drogas, não o lucro com os serviços.
Os policiais encontraram e apreenderam R$ 3,5 milhões em cheques, nos endereços alvos, além de R$ 600 mil em dinheiro vivo e 8,7 mil em dólares,
Foram cumpridos 15 mandados de prisão e 42 de busca e apreensão nos endereços dos alvos e em prefeituras e Câmaras de Vereadores. As ordens foram da 5ª Vara Criminal de Guarulhos.
Cidades alvos do Gaeco:
Arujá
Buri
Cubatão
Ferraz de Vasconcelos
Guararema
Guarujá
Guarulhos
Itatiba
Jaguariúna
Mogi das Cruzes
Poá
Santa Isabel
Sorocaba
A defesa do vereador Ricardo Queixão. de Cubatão, informou que o cliente nega crimes e que vai pedir a liberdade dele. O espaço está aberto para os outros investigados. As Câmaras de Santa Isabel e Cubatão informaram que têm colaborado com as apurações.