Venezuela reage mal à crítica do Brasil sobre eleições
Após candidatura de oposicionista venezuelana ser barrada, governo de Maduro chamou de “cinzenta e intrometida” a nota publicada pelo Itamaraty, que não rebateu a provocação
Segue repercutindo a nota publicada nesta terça-feira (26) pelo Itamaraty, com críticas à exclusão de uma candidata de oposição das eleições venezuelanas. O governo do presidente Nicolás Maduro, aliado histórico de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), classificou como “cinzenta e intrometida” a publicação do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.
"O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela repudia a declaração cinzenta e intrometida, redigida por funcionários do Itamaraty, que parece ter sido ditada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, onde são emitidos comentários carregados de profunda ignorância e ignorância sobre a realidade política na Venezuela", declarou, em nota, o governo Maduro.
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Mais cedo, o Itamaraty afirmou, em nota, que “o governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral naquele país”. O Itamaraty referiu-se ao fato de que a opositora Corina Yoris não conseguiu completar o registro da candidatura no site oficial do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela. O prazo se encerrou na segunda-feira.
O Itamaraty informou que não vai comentar a forte reação do governo venezuelano à nota brasileira.
Culpa do “sistema”
Corina disse à imprensa que o sistema estava totalmente fechado. “Tentamos ir pessoalmente ao Conselho Nacional Eleitoral para entregar uma carta solicitando uma prorrogação e nem mesmo fisicamente pudemos fazê-lo”, denunciou a candidata. Ela era o principal nome da oposição. Havia entrado na disputa após cassação da candidatura de Maria Corina Machado, até então considerada a mais forte na corrida eleitoral.
Diante do bloqueio a Yoris, outro candidato da oposição, Manuel Rosales, conseguiu se inscrever de última hora.
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“Com base nas informações disponíveis, [o governo brasileiro] observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitária, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os Acordos de Barbados. O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial”, criticou o Itamaraty.
Acordos de Barbados
Os Acordos de Barbados, mencionados pelo Itamaraty, são um conjunto de tratados internacionais assinados por diversas nações em outubro de 2023. Entre os pontos acordados, estão a libertação, pela Venezuela, de oposicionistas presos e o fim de sanções impostas pelos Estados Unidos ao governo venezuelano. As tratativas tiveram início em 2021, com intermediação da Noruega.
Depois da formalização dos acordos, em 2023, Maduro alegou estar sendo alvo de conspirações envolvendo a Agência de Inteligência dos EUA (CIA) e a Agência de Controle de Drogas dos EUA (DEA). Segundo Maduro, os órgãos norte-americanos planejavam executar atentados contra ele e contra aliados políticos.
Com esse argumento, o presidente da Venezuela disse publicamente que os Acordos de Barbados estavam “feridos mortalmente”, e estavam em “terapia intensiva”. Declarou ainda que “eles foram apunhalados, chutados”.