Ricardo Nunes sobre ações da GCM na Cracolândia: "Se vier para cima, vai tomar na testa"
Prefeito de São Paulo afirmou que vai recorrer da decisão da GCM de usar balas de borracha, bombas de gás e formação de ataque semelhantes aos da PM
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou, nesta quarta-feira (26), que vai recorrer da decisão judicial que impede a Guarda Civil Metropolitana de usar balas de borracha, bombas de gás e formação de ataque semelhantes aos da pela Polícia Militar durante intervenções na Cracolândia, no centro de São Paulo.
Nunes criticou a decisão. "Não vejo correto um juiz ou qualquer pessoa querer definir procedimentos específicos de uma atividade tão delicada que ocorre naquela área de cena aberta de uso. Então, acho que colocar isso para o juiz ou para a juíza, o que é a vida real", disse o prefeito, que também negou que os guardas têm atuado como se fossem policiais.
"Agora, a GCM não vai tratar com rosa quem está agredindo alguém", afirmou. "A GCM vai usar sua expertise para garantir a segurança da pessoa e dos nossos agentes."
O prefeito também chegou a dizer que “protocolos para situações específicas precisam ser garantidos”, como no caso de enfrentamento ao poder público.
"A gente sabe que tem traficante, muitas ações ocorrem para fazer enfrentamento público. Se vier para cima da gente, vai tomar, mas na testa, porque não vamos aceitar", afirmou Nunes. "Se tiver uma situação de, sei lá, 10, 20, 30 pessoas que vão agredir alguém, vai fazer o quê? [Pedir] por favor? Não, não dá", prosseguiu o prefeito.
Na decisão judicial, a juíza Gilsa Elena Rios, da 15ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo, acatou parte dos pedidos da ação civil pública movida pelo Ministério Público após operação policial de maio de 2017 que dispersou dependentes químicos e prendeu traficantes.
Na ocasião, a Polícia Civil deflagrou uma megaoperação que desmantelou a feira livre de drogas que ocorria no entorno da praça Júlio Prestes, na Luz, endereço da Cracolândia por mais de 20 anos. A ação iniciou antes das 7h do dia 20, com arremessos de bombas de gás contra dependentes químicos. Ao menos 38 pessoas foram presas naquele dia, segundo a Polícia Civil.
No dia seguinte, o então prefeito João Doria decretou o "fim da Cracolândia", apesar de usuários continuarem consumindo crack em vias próximas, como Aurora, Helvétia, Dino Bueno, Barão de Piracicaba e Rio Branco.
Segundo os promotores, a guarda municipal fez abordagens truculentas e agressivas às pessoas que circulavam pelo local. A decisão judicial determina que a GCM formule, em até 60 dias, um plano rotineiro de atuação na Cracolândia. Além disso, ordena que a GCM tenha um canal de comunicação para denúncias de abuso de agentes, que deverão ser encaminhadas ao comando para instauração de processos administrativos.
"Jamais vou aceitar que juiz, juíza, desembargador, coloquem a honra, a integridade e o bom serviço da Guarda Civil Metropolitana em descrédito para esta população porque um funcionário cometeu uma falha. Ele será punido, com certeza, mas o dia a dia desses profissionais não é fácil", completou.
O prefeito ainda afirmou que vai manter as grades instaladas em ruas onde há maior aglomeração de usuários de drogas na região central. "É uma medida de segurança para a própria segurança deles, para a ambulância poder entrar e socorrer uma pessoa. O objetivo não é isolar as pessoas. Já tiveram casos de atropelamento, por exemplo. Essas pessoas estão em uso excessivo de drogas, então é uma forma de protegê-las", disse Nunes.