Quem são os novos nomes do gospel mais ouvidos no Brasil?
Gênero 'furou a bolha' dos evangélicos a partir dos anos 2000 com a ajuda da internet especialmente durante a pandemia
A música gospel brasileira vem conseguindo feitos inéditos nos últimos anos – ampliando seu público para além dos evangélicos e dos cultos. O gênero tem conquistado milhões de visualizações e reproduções no Youtube e no Spotify com jovens artistas como Valesca Mayssa, Isadora Pompeo, Preto no Branco, Gabriela Rocha, Gabriela Gomes, Casa Worship.
Uma das razões para a ascensão do gênero gospel fora das igrejas é o fato de que, a partir dos anos 2000, "gravadoras seculares" passaram a produzir o gênero, de acordo com a antropóloga Olivia Bandeira, autora do livro "Música Gospel: Disputas e Negociações em Torno da Identidade Evangélica no Brasil".
"A partir dos anos 2010, principalmente, o ritmo deixa de ser produzido exclusivamente pelas igrejas, e gravadoras como a Universal Music, Sony Music e Som Livre passam a produzir artistas gospel. Antes disso, as gravadoras internacionais já investiam no gênero em outros países, mas foi neste momento que passaram fazer o mesmo no Brasil", explica Olivia.
A pesquisadora aponta outros dois motivos para que o ritmo se popularizasse fora da "bolha evangélica": a presença de artistas na mídia de massa e em festivais de grande público (como "A Marcha para Jesus" e "Festival Promessas"), além de eventos e festas realizadas por prefeituras em todo o Brasil, "em que a música religiosa e não-religiosa dividem o mesmo palco".
Sucesso gospel não é de agora
Aline Barros, Fernandinho, Eyshila e Ana Paula Valadão, líder do grupo Diante do Trono, são alguns dos nomes responsáveis por ampliar as fronteiras do sucesso evangélico na primeira década do século XXI. Eles seguiram uma "fórmula de sucesso" que continua sendo o subgênero mais popular até hoje: o "Worship Music".
"O ritmo vem de uma tradição norte-americana. É o louvor e adoração, como alguns chamam no Brasil. Foi popularizado, inicialmente, pelo grupo 'Diante do Trono', mas mesmo esses artistas que estão estourando hoje na internet seguem um pouco o 'Worship'. Acho que essa geração não traz uma novidade em termos de subgêneros", diz.
Ainda segundo Olivia, as letras desse subgênero são como uma conversa entre o artista e Deus. Além disso, o ritmo incorpora elementos da música pop norte-americana.
Redes sociais alavancaram novos nomes da música gospel
Para a pesquisadora, grande parte desses artistas "que estão nas paradas de sucesso" surgiu pelas redes sociais.
"Não começaram necessariamente dentro das igrejas ou na gravadora, mas começaram a fazer sucesso nas redes sociais antes mesmo de gravar a música. Isso faz com que circulem mais e conquistem um novo público", explica.
Essa ampliação do público, segundo ela, abrange pessoas que não frequentam as igrejas – embora esses artistas continuem muito presentes em grandes eventos para o público evangélico, além de festas de prefeituras.
Gospel demorou a migrar para o universo digital
Segundo Olivia, outro motivo para que o gênero não figurasse nas listas de mais ouvidas nos primórdios da internet era que a música gospel no Brasil vivia muito da venda de CDs e DVDs até, pelo menos, 2017. Pensando que o Youtube nasceu em 2005 e o Spotify, em 2008, esse atraso é de cerca de 10 anos.
Foi naquele ano de 2017 que aconteceu a campanha #vemprostreaming, em que a Deezer e o Spotify participaram da Feira Internacional Cristã para estimular gravadoras e artistas gospel a aderirem às plataformas. Um pouco antes também as "gravadoras seculares" começaram a inserir artistas gospel em seus catálogos digitais nesses serviços.
No mesmo ano, o conjunto Diante do Trono lançou o álbum "Deserto de Revelação" em um canal oficial do grupo no YouTube. Os anteriores tinham só o formato DVD.
E em 2018, Eyshilla lançou o EP "Vai Amanhecer" em formato digital, quase um mês antes de lançar o álbum físico. A prática, comum para artistas seculares, era inovadora para o mundo golpel.
Pandemia ajudou na digitalização no gospel
A pandemia foi o passo final rumo à digitalização do gospel, segundo Olivia. O lockdown fechou os templos, onde os artistas circulavam e vendiam seus CDs e DVDs, e também cancelou os eventos públicos. Com isso, restaram as lives no YouTube e em outras redes sociais, promovidas por artistas e gravadoras com as hashtags #fiqueemcasa e #cantecomigo.
Top 8 músicas gospel*
O SBT News compilou as oito músicas mais ouvidas dos novos nomes da música gospel brasileira no YouTube (visualizações) e no Spotify (streams). O YouTube é a plataforma preferida dos ouvintes.
"Ninguém Explica Deus (Ao Vivo)", Preto no Branco e Gabriela Rocha* — 821.755.242 visualizações e 144.183.016 de streams; lançada em 15 de dezembro de 2015;
"Lugar Secreto", Gabriela Rocha** — 639.445.232 visualizações e 150.949.975 streams; lançada em 07 de dezembro de 2017;
"Deus Proverá", Gabriela Gomes — 553.530.354 visualizações e 97.821.455 streams; lançada em 16 de março de 2018 no Youtube;
"Eu navegarei", de Gabriela Rocha** — 358.469.826 visualizações e 48.299.856 streams; lançada em 7 de fevereiro de 2018;
"A casa é sua", de Casa Worship — 477.663.239 visualizações e 163.973.708 streams; lançada em 17 de fevereiro de de 2019 no Youtube;
"Hey, Pai", de Isadora Pompeo*** e Marcela Tais — 258.489.257 visualizações e 58.264.659 streams; lançada em 28 de março de 2018 no Youtube;
"Minha Morada (Ao vivo), de Isadora Pompeo*** — 181.433.763 visualizações e 49.314.641 streams; lançada em 27 de outubro de 2017;
"Eu sou teu pai", de Valesca Mayssa está em 6º lugar nos principais vídeos em alta do Youtube Brasil — 162.575.885 visualizações e 41.449.379 streams; lançada em 20 de junho de 2023.
*Atualizados no dia 27 de maio de 2024, às 14h14;
**Gabriela conta com mais dois hits com 100 milhões de visualizações na plataforma de vídeos;
*** Isadora tem mais três hits com mais de 100 milhões de visualizações no Youtube, dentre eles o mais recente Bênçãos Que Não Têm Fim uma versão de Counting My Blessings, de Seph Schlueter.
