Quem é Rogério de Andrade, bicheiro detido pela morte do rival Fernando Iggnácio
Sobrinho e genro de Castor de Andrade disputavam a herança de pontos do jogo do bicho e máquinas caça-níqueis na Zona Oeste do Rio
O bicheiro Rogério de Andrade, maior contraventor do Rio de Janeiro, foi detido na manhã desta terça-feira (29) sob a acusação de mandar matar o rival Fernando Iggnácio em uma emboscada no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste da cidade, em 2020. Os dois herdaram os negócios criminosos de Castor de Andrade, considerado o "maior bicheiro do Brasil".
Castor de Andrade foi o maior "capo" do jogo do bicho carioca nos anos 70 e construiu um verdadeiro império criminoso na Zona Oeste, que envolvia, além de pontos de jogo do bicho, máquinas caça-níqueis, bingos e cassinos clandestinos. O antigo patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel morreu em 1997, vítima de um ataque cardíaco, e teve a herança dividida em três: além de Rogério, sobrinho e braço direito de Castor, foram beneficiados o filho Paulo Roberto de Andrade e Fernando Iggnácio, genro do contraventor.
Disputa pela herança da contravenção
Um ano depois, em 1998, Paulo foi morto a tiros quando saia de sua empresa, na Barra da Tijuca. Rogério chegou a ser denunciado como mandante da morte, mas acabou absolvido. A disputa familiar pelos pontos de jogo de bicho e pelo controle das máquinas caça-níqueis com Fernando Iggnácio causou uma série de atentados e centenas de homicídios.
Em 2010, Rogério foi vítima de um atentado a bomba. Ele e o filho, Diogo, de 17 anos, estavam em um carro de luxo na Avenida das Américas, também na Zona Oeste, quando uma bomba explodiu o veículo. O adolescente morreu na hora, enquanto o bicheiro ficou ferido no rosto e precisou fazer uma cirurgia no nariz.
Fernando Iggnácio foi executado a tiros, em novembro de 2020, em um heliporto no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. A nova investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) aponta Rogério Andrade como responsável pelo ataque.
Carnaval carioca
Como o tio, Rogério nutre grande paixão pelo carnaval carioca. Aos 61 anos, ele ocupa a posição de presidente de honra da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Sua esposa, Fabíola de Andrade, é rainha de bateria da agremiação.
O bicheiro é figura frequente em ensaios e desfiles da Mocidade. No carnaval deste ano, internautas especularam se Rogério desfilou vestido como o mascote da escola de samba, um Castor. Na época, ele cumpria prisão domiciliar, usava tornozeleira eletrônica e estava proibido de sair à noite.
As interações do mascote, que passou todo o desfile ao lado de Fabíola, geraram suspeitas na web. Veja abaixo:
Operações policiais
Em agosto de 2022, Rogério de Andrade foi preso pela Operação Calígula, apontado como líder de uma organização criminosa, integrada pelo filho Gustavo de Andrade, pelo ex-PM Ronnie Lessa, e de mais dois delegados suspeitos de facilitar as ações do grupo.
Andrade e o filho exerciam o comando do grupo criminoso realizando reuniões pessoais para a expansão de seus territórios de domínio. Eles também gerenciavam as atividades de casas de apostas. Isso permitiu aos acusados planejar a implementação de jogos de carta no bingo do quebra-mar, na Zona Oeste do Rio. Documentos apreendidos na operação revelaram, segundo o MP, o pagamento de propina a delegacias especializadas da Polícia Civil do Rio.
O bicheiro conseguiu o direito de prisão domiciliar, com o uso de tornozeleira eletrônica, mas em abril de 2024 o ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que ele não precisava mais utilizar o equipamento ou fazer recolhimento noturno.
Em março deste ano, 20 policiais militares suspeitos de ligação com o contraventor foram detidos. Os agentes são apontados como seguranças de Andrade.
Há 20 dias, ele e o presidente da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, Flávio da Silva Santos, foram alvos de mandados de busca e apreensão em uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), por ligação com o assassinato de Fábio Romualdo Mendes em disputa pela exploração do jogo do bicho.