Mulheres protestam em frente à Câmara dos Deputados contra projeto que equipara aborto a homicídio
Gritos como "Fora, Lira" e "criança não é mãe, estuprador não é pai" foram entoados
Dezenas de mulheres, de jovens a idosas, fizeram um protesto em frente à entrada do Anexo II da Câmara dos Deputados, em Brasília, nesta quarta-feira (19), contra o Projeto de Lei (PL) que equipara o aborto de gestação acima de 22 semanas ao homicídio simples. O ato contou com discursos dos deputados federais Erika Hilton (SP), líder do Psol na Câmara, e Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ).
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Gritos como "Fora, Lira" e "criança não é mãe, estuprador não é pai" foram entoados. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) pautou um requerimento de urgência ao projeto na semana passada e permitiu que fosse aprovado em 23 segundos.
No protesto, era possível ver cartazes com frases como "Fora, Lira", "Não voto em quem tira meus direitos. #arquivalira" e "aborto legal e seguro para todas". Bandeiras, como do Partido Comunista Revolucionário, também foram levadas.
Vivian Aires, moradora de Porto Alegre e ligada à Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Educação das Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil, era uma das participantes do ato. "Nós e eu principalmente, como mulher e como mãe, também entendo que dispor do nosso corpo enquanto mulher, decidir se uma gravidez deve ser levada adiante ou não já por si só é um problema", disse ao SBT News.
"Porque esse é um direito que nós mulheres temos que ter de definir os rumos da nossa vida e sobre o nosso corpo. Porém, esse é um projeto ainda muito pior, porque é um projeto que legitima a violência contra nós mulheres e, pior ainda, contra crianças", acrescentou.
"Estamos aqui, mulheres de vários movimentos, homens, mulheres cristãs, para dizer que queremos o arquivamento desse projeto. Esse projeto é inconstitucional, é uma violência contra a vida de mulheres e crianças. Queremos o imediato arquivamento", afirmou Leda Gonçalves de Freitas, professora e pesquisadora, representante do Conselho de Segurança de Taguatinga, à reportagem.
Em seu discurso, Erika Hilton pontuou que "é importante a mobilização para mostrar que estuprador não pode ser pai, criança não pode ser mãe, e a Câmara dos Deputados tem que defender a vida e não retroceder".
Já o Pastor Henrique Vieira criticou a bancada evangélica da Câmara. "O fundamentaliso religioso tem sangue nas mãos. O fundamentalismo religioso é baseado numa moral insensível, violenta, patriarcal, que legitima todos os dias violência contra mulheres neste país", pontuou.
"É preciso dar o nome: este projeto, que é violento, que é inconstitucional, que é misógino, que tem sangue nas mãos, vem da bancada evangélica da Câmara dos Deputados".
O ato acabou por volta de 16h. Na terça-feira (18), Arthur Lira anunciou que o PL, de autoria do senador Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), só será debatido no Congresso Nacional no segundo semestre deste ano, com a criação de um grupo de trabalho.