Maria da Penha: a história de mulheres vítimas de ex-companheiros que sobreviveram com ajuda da lei
Série de reportagens do SBT Brasil, “Além da Medida”, conta o desabrochar de mulheres que conseguiram dar a volta por cima graças à lei
Como denunciar violência contra a mulher
Para fazer denúncias ligue no número 180. O atendimento funciona 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados, e está disponível também no WhatsApp pelo número (61) 9610-0180.
“Começou a proibir roupas, amizades, lugares onde tinham homens e até assistir televisão. Batia, chutava e quebrou meus dentes”.
Hoje, quem vê Carla Mendes de Souza, aos 45 anos, saudável e confiante na vida, não imagina o sofrimento dela, enquanto (sobre)vivia vítima do ex-companheiro.
De janeiro a julho deste ano, mais de 330 mil mulheres entraram na Justiça, para pedir uma medida protetiva ou denunciar o descumprimento da proteção. Em média, são 1.570 vítimas de violência por dia, sem contar as histórias abafadas entre quatro paredes, que tentam se livrar de seus algozes.
O último episódio da série de reportagens do SBT Brasil, “Além da Medida”, conta o desabrochar de mulheres que conseguiram dar a volta por cima graças à Lei Maria da Penha.
Virada de jogo
Depois que ela denunciou os maus-tratos contra o ex-marido, o caso foi parar na Justiça, mas Carla foi impedida de comparecer à audiência pelo homem. O juiz concedeu uma medida protetiva, que determinou o afastamento do agressor.
"Ele não respeitou no mesmo dia. Ele ficava me seguindo, ia onde eu estava, jogava pedra, jogava pau em mim", conta Carla.
Com o histórico de violência e a protetiva, o endereço de Carla Mendes passou a ser monitorado pela Guardiã da Maria da Penha, um programa ronda previsto em lei, em parceria com o Ministério Público, Guardas Civis e Polícia Militar. Descumprimindo a proteção judicial, o agressor foi parar atrás das grades.
"Quando ele [agressor] escutou o barulho, sem chamar o nome dela, ele veio ver, eu já estava com minha arma na mão, e já apontei a arma na cara dele e falei que ele estava preso. Quando a gente ia conduzindo ele para a prisão, ele pedia 'pelo amor de Deus', mas ele não era valentão? era valentão com ela...", conta a inspetora Darcy.
Desde então, “eu comecei a acreditar em mim, ter amor próprio, cuidar de mim porque eu estava totalmente destruída, sem dente, magra, não me alimentava, sem trabalho e tinha uma criança para cuidar”, diz Carla.
"A mulher não está sozinha"
Depois de ter os próprios filhos ameaçados de morte, a casa completamente quebrada, uma mãe de quatro filhos, que não quis se identificar, só teve sossego quando o ex-marido foi preso por descumprimento da medida protetiva.
"Ele está preso e eu estou aliviada. Espero que quando ele saia siga o caminho dele e me deixe em paz. É importante mostrar a mulher que ela não está sozinha, que ela não precisa aceitar nenhum tipo de ameaça, nenhum tipo de coação", afirma.
Maria da Penha
A própria Maria da Penha, a mulher que inspirou a lei e virou símbolo de resistência, reconhece que a legislação e a fiscalização ainda deixam a desejar, mas ela ainda é o caminho contra a diminuição da violência de gênero.