Exclusivo: PMs investigados em tortura de homem absolvido pela Justiça têm envolvimento em 3 homicídios
Policiais tentaram dificultar gravação das câmeras corporais no caso da tortura; em um dos homicídios, equipamentos estavam descarregados
Derick Toda
Kaê Carneiro
Dois dos quatro policiais envolvidos no caso do homem que teve a condenação por tráfico de drogas anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por ter sido torturado são investigados em ao menos três homicídios.
O soldado Marcio José Carniel Júnior foi alvo de uma investigação por um assassinato na cidade de Itapevi, em 2022. O caso foi arquivado pela Justiça no fim do mesmo ano por falta de provas.
O soldado Willian Barbosa Pereira dos Santos é suspeito de dois casos que resultaram em morte ocorridos em Barueri e também em Itapevi. No segundo, a ação policial não foi gravada pela câmera corporal que, de acordo com a versão do militar, estava descarregada.
Disparos contra jovem negro
Em 4 de maio de 2024, o policial Willian Barbosa Pereira dos Santos realizava patrulhamento em área próxima a um baile funk da cidade quando avistou um Hb20 roubado em um posto de gasolina.
O militar, na companhia de outros dois colegas de farda, deu ordem para os cinco ocupantes descerem. Três ocupantes saíram. O motorista, Kaique Costa da Silva, de 23 anos, e a namorada dele ficaram no carro. O jovem, que estava armado, teria arrancado com o veículo.
Em seguida, um dos policiais disparou seis vezes contra Kaique. Willian também atirou duas vezes. O rapaz foi atingido por cinco tiros no peito e dois nas costas e a namorada, por estilhaços no quadril.
Para o promotor de Justiça Marcel Del Bianco Cestaro, Willian e os policiais na ocorrência "dispararam de forma voluntária, em direção aos civis, vindo, ao menos, a assumir o risco de matar". Ele destaca ainda que a namorada só não morreu por "erro de pontaria".
O Ministério Público pediu novas diligências sobre o caso, que é investigado por um Inquérito Policial Militar (IPM).
Provas para prisão obtidas com tortura
O Superior Tribunal de Justiça absolveu um homem condenado por tráfico de drogas após analisar as câmeras corporais utilizadas pelos PMs Márcio José Carniel Júnior e William Barbosa Pereira dos Santos.
As imagens identificaram que as provas que o levaram à prisão foram obtidas com tortura praticada por ao menos quatro policiais, em uma zona de mata, em Itapevi.
A vítima foi estrangulada e espancada para indicar onde estava uma sacola de drogas. Mesmo após entregar os entorpecentes, o jovem foi chicoteado nas costas com um galho espesso de árvore.
Nos vídeos das câmeras corporais, os militares, no momento das agressões, apagaram as lanternas e tamparam com as mãos a bodycam para dificultar a visualização das imagens.
Procurados pela reportagem do SBT News, os policiais envolvidos no caso não se pronunciaram.