Ex-auxiliar de Moraes diz que entregou celular a policiais civis de SP
Delegado da Polícia Civil que prendeu Eduardo Tagliaferro, ex-chefe de combate à desinformação da Corte, vai ser ouvido sobre suposto vazamento intencional
Ricardo Brandt
O perito Eduardo de Oliveira Tagliaferro, ex-servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no período em que o ministro Alexandre de Moraes foi presidente da Corte, afirmou à Polícia Federal (PF), nesta quinta-feira (22), que forneceu o telefone e a senha para a Polícia Civil de São Paulo, em 2023, quando passou uma noite preso. O ex-assessor disse que entregou o aparelho na ocasião por confiar que a apreensão do celular havia sido ordenada pelo ministro.
+ PF investiga Polícia Civil de SP no "vazamento" de conversas de assessores de Alexandre de Moraes
A PF vai intimar o delegado José Luiz Antunes, da Polícia Civil paulista, que registrou a prisão de Tagliaferro, em Franco da Rocha (SP), por agressão contra a esposa, em 2023.
A PF abriu abriu inquérito na segunda-feira (19), após reportagem do jornal Folha de S. Paulo, que revelou conversas de dois assessores diretos de Moraes no STF e no TSE. A investigação foi determinada por Moraes, no dia seguinte à publicação, para descobrir a origem das mensagens "vazadas". Além de Tagliaferro, quem aparece é o juiz auxiliar Airton Vieira, do gabinete do ministro no STF. São pedidos de dados em processos contra aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A PF ouviu Tagliaferro nesta quinta-feira (21). Segundo ele, o então cunhado e amigo contou que durante sua prisão "uma viatura caracterizada da Polícia Civil de Franco da Rocha foi até a casa" dele e exigiu a entrega do aparelho celular.
"Celso foi até a delegacia de Franco da Rocha, onde encontrou o delegado de Polícia Civil José Luiz Antunes e entregou o aparelho celular." O policial teria dito ao amigo que Tagliaferro era muito querido e "que todo mundo estava atrás desse aparelho, que havia chegado uma ordem do ministro Alexandre, de Brasília". O policial disse que o telefone "seria encaminhado a São Paulo e depois para Brasília", registra o termo de depoimento da PF.
"O depoente acreditou que o aparelho estava seguro, pois havia sido direcionado ao ministro. Dias depois perguntou ao advogado do caso sobre o aparelho, ao que foi respondido que poderia ser restituído, o que gerou surpresa ao depoente, pois acreditava que o aparelho estava em Brasília", trecho de registro da PF do depoimento de Eduardo Tagliaferro.
Tagliaferro e o juiz auxiliar de Moraes falam sobre dados e produção de documentos do órgão de investigação do TSE para abastecer inquéritos do STF sob relatoria de Moraes contra bolsonaristas. O conteúdo revelado pela reportagem aponta possível irregularidades nos pedidos diretos e informais entre os auxiliares. O ministro negou qualquer ato indevido.
Nesta sexta-feira (23), Moraes baixou o sigilo do inquérito aberto por ele, que busca saber a origem dos áudios que o jornal teve acesso. O depoimento de Tagliaferro registra sua defesa. Ele nega que tenha repassado dados para a reportagem. Conta que quando foi preso, por disparar sua arma, dentro de casa, em uma briga com a mulher, contou que foi preso, deixou o aparelho com o amigo, sem bloqueio. E que depois o telefone ficou seis dias com a Delegacia Seccional da Polícia Civil de Franco da Rocha.