'Estamos muito atrasados no combate às mudanças climáticas', alerta presidente do CNPq
Ricardo Galvão disse, ao SBT News, que o cenário de seca severa já era uma previsão feita há quase 15 anos
O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o cientista Ricardo Galvão, afirmou que o Brasil está “muito atrasado” no enfrentamento às mudanças climáticas e problemas ambientais. A fala foi feita em entrevista ao programa Poder Expresso, do SBT News, nesta segunda-feira (15).
“Estamos muito atrasados em relação às mudanças climáticas, para evitar a seca no Cerrado, por exemplo, que é a fonte de água do país. Houve alertas, mas não agimos anteriormente. Agora estamos tentando, mas estamos muito atrasados. Não podemos mais negligenciar a questão ambiental, como fizemos antes”, disse ele.
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O Brasil vive uma escalada das queimadas e a pior seca da história do país. Segundo Galvão, a comunidade científica já fazia a previsão desse cenário há quase 15 anos.
“Esse tópico das mudanças climáticas e de que as queimadas levariam a uma seca severa já é uma previsão da ciência há quase 15 anos. E isso está causando um efeito fortíssimo sobre o país e vai prejudicar um setor importantíssimo, que é o agronegócio. Nós temos a possibilidade muito rápida de secar o Pantanal, por exemplo, como a ministra Marina Silva [do Meio Ambiente] já alertou. E o que mais me incomoda é que sabemos que a maior parte desses incêndios foi proposital”, pontuou o cientista.
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Galvão fez referência aos 52 inquéritos abertos pela Polícia Federal (PF) para investigar origens criminosas em queimadas recentes de diversas regiões do Brasil.
Apesar do contexto preocupante, o presidente do CNPq ponderou que tem observado uma maior conscientização da população sobre as mudanças climáticas, o que mantém o tema no centro das discussões do poder público e estimula ações de combate aos problemas ambientais.
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“Se eu olho para a sociedade, há 15 anos não tínhamos quase nenhuma consciência dos efeitos danosos terríveis das mudanças climáticas. Hoje, as pessoas percebem esse cenário de um jeito muito mais consciente, entendem que os problemas ambientais são reais”, declarou.
Demissão do Inpe
Ricardo Galvão, que tem o nome reconhecido na área científica há muitos anos, se mantinha longe dos holofotes, até a sua passagem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
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Ele comandou o instituto federal de 2016 a 2019, quando foi demitido após desgaste com o presidente Jair Bolsonaro (PL), que acusou o Inpe de mentir sobre dados que indicavam alta no desmatamento na Amazônia.