Desigualdade entre ricos e pobres no acesso à creche aumenta no Brasil, aponta relatório
Diferenças regionais também são relevantes, com Norte e Nordeste com os piores indicadores de educação infantil

Wagner Lauria Jr.
A desigualdade entre ricos e pobres no acesso à creche aumentou no Brasil, apesar do avanço nas matrículas na educação infantil. É o que mostra um levantamento do Todos Pela Educação, baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C) e do Censo Escolar, divulgado nesta segunda-feira (11).
De 2016 a 2024, a taxa nacional de atendimento a crianças de até 3 anos subiu para 41,2%, ainda distante da meta de 50% prevista no Plano Nacional de Educação (PNE) para este ano. No mesmo período, a distância entre os extremos de renda cresceu: a diferença na taxa de atendimento passou de 22 para 29,4 pontos percentuais. Atualmente, 30,6% das crianças mais pobres frequentam creche, contra 60% das mais ricas.
O estudo ainda revela que quase 2,3 milhões de crianças de até três anos estão fora da creche por dificuldades de acesso, como falta de vagas ou ausência de unidades próximas.
O cenário é ainda mais crítico entre os bebês de até 1 ano: apenas 18,6% estão matriculados. Em 2024, quase um quarto (24,8%) dessa faixa etária ficou fora do serviço por barreiras de acesso. Entre as famílias mais pobres, a exclusão atinge 34%.
"Sem a adoção de políticas estruturantes para a expansão com qualidade e equidade, o Brasil continuará privando uma parcela significativa de suas crianças do direito à Educação Infantil e, portanto, ao pleno desenvolvimento", afirma Manoela Miranda, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação.
Pré-escola
Na pré-escola, que atende crianças de 4 e 5 anos e é obrigatória por lei, 94,6% estão matriculadas. Apesar da alta cobertura, mais de 329 mil permanecem fora da sala de aula. Entre as famílias mais ricas, a principal razão para a não frequência é a escolha dos responsáveis; entre as mais pobres, o problema é a falta de acesso — barreira quase inexistente nas camadas mais altas de renda, de acordo com o documento.
Desigualdade regional
As diferenças também se refletem entre as regiões. Norte e Nordeste concentram os piores indicadores. Em 2024, São Paulo liderou o atendimento em creches, com 56,8% da população atendida. Na outra ponta está o Amapá, com apenas 9,7% das crianças matriculadas. Na pré-escola, só o Piauí – nas regiões Norte e Nordeste – atingiu a universalização e o Amapá ficou com 69,8% de cobertura.
Para o Todos Pela Educação, enfrentar o problema exige uma ação coordenada entre União, estados e municípios, com políticas indutoras consistentes, financiamento adequado e foco na redução das desigualdades.