Depoimento de ex-comandante do Exército sobre tentativa de golpe durou 8 horas
General Freire Gomes começou a ser ouvido no meio da tarde da sexta e seguiu pela madrugada; respondeu tudo
O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, deu o mais longo depoimento das investigações da Polícia Federal sobre tentativa de golpe de Estado, por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), após derrota para Lula (PT) nas eleições de 2022. Foram cerca de oito horas de interrogatório, na sede da PF em Brasília.
Intimado a depor como testemunha no inquérito da Operação Tempus Veritatis, deflagrada em 15 de fevereiro, Freire Gomes começou a ser ouvido pelo delegado da PF por volta das 15h, desta sexta-feira (1).
Com pequenas interrupções, o depoimento seguiu até mais de meia-noite. Freire Gomes deixou a PF na madrugada deste sábado (1). O general respondeu todas as perguntas feitas.
A Tempus Veritatis encurralou Bolsonaro e o núcleo duro das Forças Armadas e aliados de confiança. Ao pedir buscas nos endereços do ex-presidente e a apreensão de seu passaporte, a PF apontou "participação direta" na redação da minuta do golpe - documento que foi apreendido na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, no início de 2023. O texto do decreto previa a destituição de poderes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"A análise e as discussões sobre o documento mais robusto apresentado por FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA teriam suscitado a convocação de uma série de reuniões pelo então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO, inclusive para tratativas com militares de alta patente sobre a instalação de um regime de exceção constitucional", relatório da PF da Operação Tempus Veritatis.
Trocas de mensagens do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro no Planalto, o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, que colaborou com a PF, indicam que Bolsonaro ajudou a dar a redação final do documento. O que foi destacado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes – que é o presidente do TSE.
O general também foi citado por ter ido contra o desmonte do acampamento golpistas no quartel-general do Exército. Ainda em 2022, após a derrota, ele teria dado ordem para não desmobilizar o acampamento.
Reuniões
Mauro Cid também é quem aparece em conversas com o general Freire Gomes, que era o comandante do Exército. Uma delas em 9 de dezembro de 2022, após a derrota no segundo turno para Lula.
Freire Gomes também esteve na reunião do dia 7 de dezembro de 2022, no Planalto, com o ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier e o ex-ministro da Defesa general Paulo Sérgio Nogueira.
Mensagens encaminhadas por Mauro Cid para o general Freire Gomes sinalizam que o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro estava redigindo e ajustando o decreto e já buscando o respaldo do general Estevam Theófhilo Gaspar de Oliveira", registra a PF. O general também esteve no dia 9 de dezembro no Planalto.
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