Dados de antenas de celular mostram como Marielle teria sido monitorada pelos assassinos
Denúncia oferecida pela PGR revela, entre outros fatos, a presença de Major Ronald, preso nesta quinta-feira, em locais onde a vereadora esteve
A denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal contém dados comprometedores sobre Ronald Paulo de Alves Pereira, o Major Ronald, acusado de participação no assassinato de Marielle Franco (PSOL-RJ). Entre as informações, estão registros de empresas de telefonia celular que revelam a presença do suspeito, antes do crime, em locais frequentados pela vereadora.
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“A participação de Ronald se deu por meio do monitoramento das atividades de Marielle e do fornecimento aos executores de informações essenciais à consumação dos crimes”, diz a denúncia. Segundo a PGR, um dos registros comprova que Ronald acompanhou Marielle durante uma agenda política na Universidade Cândido Mendes, localizada na Rua da Assembleia”, no Centro do Rio de Janeiro. A essa observação a denúncia da PGR anexou um diagrama com as localizações de antenas de telefonia que receberam dados do celular do suspeito ao longo do trajeto.
Mídias sociais
A informação essencial para o crime, entretanto, foi obtida de forma relativamente simples. Ronald viu nas redes sociais de Marielle que ela participaria de um evento no dia 14 de março de 2018, na Casa das Pretas, no Rio de Janeiro. “Encontrou aí a oportunidade para a execução do homicídio, atendendo à exigência de Rivaldo Barbosa de que o crime não fosse praticado em trajeto que tivesse a Câmara Municipal como ponto de partida ou de destino”, destacou a PGR.
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Rivaldo Barbosa, mencionado na denúncia, era o então chefe da Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro. De acordo com a PGR, essa cautela em relação ao trajeto comprova o “auxílio intelectual aos criminosos”. Ou seja, o delegado teria usado a experiência como investigador na busca pelo crime perfeito. Além disso, segundo a PGR, Barbosa se aproveitou da autoridade do cargo de chefia para oferecer aos envolvidos a garantia de impunidade, barrando internamente eventuais medidas investigativas contra eles.
Infiltrado no PSOL
Conforme a denúncia da PGR, outra tática usada para monitorar Marielle foi infiltrar o “miliciano” Laerte Silva de Lima ao mesmo partido da vereadora. “A sua filiação ao PSOL ocorreu logo após as eleições de 2016, com a missão de obter informações sobre a atuação política de seus integrantes”, diz a denúncia. “Laerte sabia, e revelou a Domingos Brazão que Marielle Franco realizara diversas reuniões comunitárias nos bairros que compõem a região administrativa de Jacarepaguá, tratando de assuntos relacionados à regularização fundiária”, acrescenta a PGR.
Além de Barbosa e Ronald, a PGR denunciou ao STF o deputado Chiquinho Brazão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro Domingos Brazão (irmão de Chiquinho) e o policial militar Robson Calixto Fonseca, o “Peixe”, ex-assessor de Domingos. Os irmãos Brazão são apontados como mandantes. Os demais teriam sido responsáveis, direta ou indiretamente, pela execução.
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A denúncia é assinada pelo vice procurador-geral da República, Hindenburgo Chateaubriand Filho. O ministro do STF Alexandre de Moraes notificou, nesta quinta-feira (9), os acusados, para oferecerem resposta em até 15 dias. Após receber a manifestação das defesas, Moraes deve decidir se aceita ou não a denúncia da PGR. Se aceitar, os acusados se tornam oficialmente réus na ação penal a ser julgada pelo STF.
Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, o “Suel”, ambos presos, já são réus. Eles, inclusive, forneceram boa parte das informações contidas na denúncia referente aos outros envolvidos, por meio de delação premiada.