Cracolândia desapareceu? dispersão de usuários gera incertezas em São Paulo
Dependentes químicos que se concentravam na Rua dos Protestantes se dispersaram por outras regiões do Centro da capital

Emanuelle Menezes
O fluxo de usuários de drogas na Rua dos Protestantes, uma das principais cenas abertas de uso de entorpecentes no Centro de São Paulo, diminuiu nesta semana a ponto de moradores se perguntarem: a Cracolândia desapareceu?
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Apesar do esvaziamento no local, que fica ao lado da Estação da Luz, a movimentação de grupos de dependentes químicos foi registrada na região central na noite desta terça-feira (13). Uma verdadeira "procissão do crack", como chamou a ONG A Craco Resiste.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra dependentes químicos sem rumo, circulando pela região da Praça Marechal Deodoro. Eles teriam tentado se instalar no local, segundo relatos, mas foram impedidos pela Polícia Militar.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que ações realizadas pela gestão contribuíram para a redução dos usuários no local. A nota destaca a prisão de lideranças criminosas na região, a apreensão de drogas e o fechamento de hotéis que seriam usados para lavar dinheiro do tráfico.
A pasta também destaca que cerca de 20 mil pessoas foram encaminhadas para instituições como hospitais especializados, comunidades terapêuticas, UBSs, AMEs e Hospitais Gerais.
"Essas ações se somaram ao reforço no policiamento e a intensificação de investigações, separando o criminoso do dependente químico", disse o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite. Em vídeo publicado no Instagram, o governador Tarcísio de Freitas prometeu o fim da Cracolândia.
"Estamos fazendo o que nunca foi feito, o que ninguém teve coragem de fazer. Por isso, reforço aqui meu compromisso: a Cracolândia vai acabar", disse o governador.
Entretanto, para entidades e organizações que atuam com os moradores de rua da região, não é bem assim. "Não sumiram nem estão todos em clínicas, mas espalhados pela cidade, amedrontados e maltratados", rebateu o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua.
De acordo com A Craco Resiste, dependentes químicos ouvidos pela ONG afirmaram que agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) aumentaram a violência nas abordagens feitas na Rua dos Protestantes, "além das outras agressões já cotidianas, com uso de spray de pimenta e apropriação de pertences pessoais, como roupas e dinheiro".