Casos de violência contra crianças crescem no Brasil e já somam quase 230 mil denúncias em 2025
Projeto de lei aprovado na Câmara quer dar prioridade a investigações e julgamentos de crimes cometidos contra menores de idade
Ricardo Taíra
Simone Queiroz
Marcia Barros
O número de casos de violência contra crianças cresce em todo o país. Só neste ano, foram registradas quase 230 mil denúncias, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos.
O total, de 229.576 casos entre janeiro e setembro, representa um aumento de 5,3% em relação a 2024.
Crianças e adolescentes estão no topo das estatísticas, superando a violência contra mulheres, idosos e pessoas com deficiência.
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Entre as vítimas mais recentes está Maria Clara, assassinada pelo padrasto e pela mãe em Itapetininga, no interior de São Paulo. O corpo da menina de quatro anos foi encontrado concretado no quintal de casa.
“Até quem não é da família fica afetado. Uma crueldade dessa, a menina de 4 anos”, disse o tio, emocionado.
Outro caso que chocou o país é o do pequeno João Pedro, de apenas dois anos. O padrasto, Jefferson Ivan Lopes dos Santos, de 21 anos, afirmou que deixou o menino no banho e, ao voltar, o encontrou desacordado. O laudo do IML, no entanto, apontou morte por asfixia.
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A mãe, Giovana Dannin, de 18 anos, também foi presa. Embora não tenha participado diretamente da agressão, a polícia considerou que ela foi conivente e omissa. Segundo familiares, João Pedro apresentava hematomas com frequência, sempre justificados com a mesma desculpa: “ele caiu e se machucou”.
A avó do menino contou que pedia à filha para se separar do companheiro, que também a agredia. Hoje, ela carrega o peso da culpa e o sentimento de impotência.
“A gente fica nessa sensação... porque que eu não tirei o meu neto antes!”, desabafou Chaiana Simão de Deus Reis, avó de João Pedro.
Diante do aumento dos casos, um projeto de lei do governo federal, já aprovado pela Câmara dos Deputados, prevê que crimes contra a vida de crianças e adolescentes tenham prioridade na tramitação dos inquéritos e julgamentos. A proposta ainda será analisada pelo Senado.
Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a medida é positiva, mas precisa ir além.
“Essa proposta de lei precisa ser ampliada, não focar apenas nos homicídios, porque temos uma enorme quantidade de maus-tratos, violência sexual e abandono”, afirmou o advogado Ariel de Castro, especialista em direitos da infância.
As tragédias que abalam famílias e comunidades inteiras reforçam a importância de ficar atento aos sinais de abuso e sofrimento.
“Ele vinha com o nariz sangrando, machucado... comecei a perceber além dos hematomas que o menino já vinha sofrendo”, contou a avó.
São crianças pedindo socorro. E cada denúncia pode salvar uma vida.