Brasil tem o menor número de filhos por mulher da história, diz IBGE
Tendências apontadas são as diferenças regionais, adiamento da maternidade e o aumento da opção por não ter filhos

Wagner Lauria Jr.
O Brasil registrou o menor número de filhos por mulher da história. É o que aponta o Censo de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (27), o país atingiu a menor taxa de fecundidade já registrada: 1,6 filho por mulher.
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O número também está abaixo do chamado nível de reposição populacional (saiba mais abaixo), estimado em 2,1 filhos por mulher, patamar mínimo necessário para garantir que a população se mantenha estável ao longo das gerações.
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O dado consolida uma tendência de queda que se intensifica desde os anos 1970. Para se ter ideia, em 1960, a média de filhos por mulher no país era de 6,3. Desde então, o índice caiu para 4,4 nos anos 1980, 2,4 em 2000 e, agora, chega a 1,6.
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O que significa estar abaixo da taxa de reposição?
Uma taxa abaixo de 2,1 filhos por mulher indica que, com o tempo, a população tende a diminuir, a menos que haja crescimento compensatório via imigração. Esse fenômeno, já observado em países como Japão, Itália e Alemanha, traz implicações sérias para o futuro: envelhecimento populacional acelerado, pressão sobre os sistemas de saúde e previdência, e possíveis impactos no mercado de trabalho.
Diferenças regionais e sociais: quem ainda tem mais filhos?
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Embora a tendência de queda na fecundidade seja nacional, há grandes variações de acordo com a região, raça, religião, nível de escolaridade e até idade das mulheres.
Regiões: O Sudeste apresenta a menor média (1,41 filho por mulher), enquanto o Norte ainda mantém o índice mais alto (1,89), apesar da queda em relação a décadas anteriores.
Raça e etnia: Mulheres indígenas têm a maior média (2,8 filhos), enquanto brancas e amarelas registram as menores (1,4 e 1,2, respectivamente).
Escolaridade: Quanto mais anos de estudo, menor o número de filhos. Mulheres com ensino superior completo têm, em média, apenas 1,2 filho.
Religião: As evangélicas lideram a taxa entre os grupos religiosos (1,7), seguidas por católicas (1,5) e espíritas (1,0).
Maternidade tardia: filhos depois dos 30
Outra mudança evidente é o adiamento da maternidade. A idade média das brasileiras ao terem filhos passou de 26,3 anos em 2000 para 28,1 anos em 2022.
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O perfil também mudou: em 2010, a faixa etária com maior taxa de fecundidade era a de 20 a 24 anos; hoje, são as mulheres entre 25 e 29 anos. Aquelas acima de 30 anos vêm crescendo em participação, enquanto os nascimentos entre adolescentes e jovens até 24 anos diminuem.
O Distrito Federal lidera o ranking da maternidade tardia, com idade média de 29,3 anos. Já o Pará apresenta a média mais baixa, com 26,8 anos.
Mais mulheres optam por não ter filhos
Além da redução no número de filhos, cresceu também a proporção de mulheres que não têm filhos ao fim da vida reprodutiva. Em 2000, 10% das brasileiras entre 50 e 59 anos não tinham filhos. Em 2022, esse percentual subiu para 16%.
Entre os principais motivos estão o adiamento da maternidade, muitas vezes vinculado à carreira ou à estabilidade financeira, e a mudança nos desejos pessoais, com mais mulheres assumindo que simplesmente não querem ser mães, aponta o Instituto.