Ação dos flanelinhas desafia fiscalização em São Paulo na véspera de Natal
Motoristas relatam constrangimentos e cobranças irregulares em área de Zona Azul no Mercadão
Marcelo Bittencourt
A cena se repete: estacionar nas proximidades do Mercado Municipal de São Paulo é praticamente sinônimo de lidar com os "guardadores de carros", mais conhecidos como “flanelinhas”. Na véspera do Natal, a reportagem flagrou essa prática comum, que incluía até promoções em meio à movimentação intensa das compras de última hora.
+ Flanelinhas atuam ilegalmente no centro de SP, cobrando por vagas públicas e burlando fiscalização
Durante a abordagem, os “flanelinhas” ofereciam vagas e garantiam segurança aos motoristas. “Vou fazer 20 pra você, à vontade. Tá bom?”, negociou um deles, a poucos metros de uma equipe da Guarda Civil Municipal. Questionado sobre a segurança, ele afirmou: “Eu trabalho todo dia aqui. Pode perguntar, é de boa”.
Em outro ponto, a câmera escondida capturou novas ofertas. Por "quinzão" (R$ 15), os motoristas tinham a promessa de que o veículo ficaria protegido. “Tá em casa, patrão. Se você for estacionamento, é R$ 30 uma hora. Ajuda nós por ‘quinzão’ aí”.
Apesar das garantias, as placas na região são claras: trata-se de uma área de Zona Azul, sistema oficial mantido pela Prefeitura, com cobrança de R$ 6,36 por hora. Mesmo assim, os “guardadores" insistem: “Aqui não é Zona Azul, é de boa. Pode parar tranquilo”.
As negociações seguem um padrão. Primeiro, valores altos, que vão sendo reduzidos para segurar o cliente. Um deles ofereceu o serviço por R$ 30 e, ao notar hesitação, rapidamente abaixou para R$ 20. “Pode ficar tranquilo, nós ‘trabalha’ direitinho. Tem câmera, tem tudo aqui, em frente ao mercadão”.
Motoristas relatam o desconforto e, em muitos casos, sentem-se pressionados. “Você fica meio que refém, com medo de uma retaliação ao veículo”, desabafou um deles. Os “flanelinhas”, por sua vez, alegam que apenas buscam trabalhar. “Somos trabalhador, nós não ‘rouba’ corrente, não rouba nada. Aqui é na moral”, justificou um deles.
A prática não é nova e nem exclusiva da região do Mercadão. No entanto, especialmente em dias de grande movimento, como a véspera de Natal, a sensação de estar "encurralado" parece inevitável. Enquanto isso, as ofertas continuam, assim como as promessas de segurança.