Tragédia de Alcântara: maior acidente espacial brasileiro completa 20 anos
A explosão do foguete causou 21 mortes e um retrocesso ao desenvolvimento espacial brasileiro
Considerado o maior acidente da história do Programa Espacial Brasileiro, a explosão no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) completa, nesta 3ª feira (22.ago), 20 anos. A tragédia matou 21 pessoas que ali trabalhavam.
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O foguete
Em Alcântara, norte do Maranhão, o Programa Espacial Brasileiro se preparava para lançar dois satélites brasileiros: o Satec e o Unosat, desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Universidade Norte do Paraná (Unopar), respectivamente.
A Operação São Luís foi a primeira tentativa brasileira de colocar um satélite em órbita a partir de uma base nacional. Entretanto, duas outras tentativas já haviam sido feitas. Em 1997 e 1999, os foguetes apresentaram falhas e foram destruídos. Por isso, havia grande esperança de que o Veículo Lançador de Satélites (VLS) de 2003 pudesse dar certo.
O foguete tinha 19,4 metros de altura, cerca de 50 toneladas e seu lançamento estava previsto para o dia 25 de agosto de 2003.
A tragédia
No dia 22 de agosto de 2003, engenheiros, mecânicos, cientistas, técnicos e outros profissionais da área trabalhavam na base para o futuro lançamento, no entanto, por volta das 13h um dos quatro propulsores foi acionado indevidamente. Segundo as investigações, houve uma indução eletrostática no detonador, mas, até hoje, não se sabe exatamente como isso aconteceu.
Dessa forma, o foguete, que estava preso à base, explodiu ao tentar subir. Em questão de segundos, o trabalho de muitos anos e o investimento de milhões foi destruído, bem como a vida dos 21 profissionais que ali trabalhavam. Todos do sexo masculino.
Possível sabotagem
À época, especulações sobre uma possível sabotagem ao lançamento do foguete brasileiro surgiram tal qual um roteiro de cinema sobre a Guerra Fria -- período em que Estados Unidos e União Soviética participavam da chamada Corrida Espacial, uma competição pela soberania da exploração do espaço.
A diplomacia estadunidense tinha interesse na utilização comercial da base de Alcântara e, nas negociações com o governo brasileiro, tentou aprovar uma proposta em que utilizaria dos serviços do local sem qualquer inspeção brasileira. O Brasil entendeu que tal acordo feria a soberania nacional e negou. Entretanto, posteriormente outros acordos foram feitos tanto com os Estados Unidos quanto com outros países, como a Ucrânia.
Anos mais tarde, em 2011, documentos revelados pelo WikiLeaks mostraram que os Estados Unidos não queriam que o Brasil tivesse um projeto próprio de foguetes espaciais. Para impedir que o desenvolvimento brasileiro avançasse, os estadunidenses pressionaram outros parceiros a não apoiarem e não transferirem tecnologia do setor aos brasileiros, o que deu ainda mais folego às teorias de sabotagem.
Todavia, as investigações descartaram tal teoria e a conclusão do relatório foi a de que múltiplos fatores comprometeram a operação, como: sobrecarga de trabalho dos funcionários, falta de protocolos de segurança mais rigorosos e investimento insuficiente.