Cientistas desenvolvem batata-doce com 50% a mais de vitamina A
Tubérculo, produzido na Unesp, é fruto de cruzamentos naturais; 100 gramas são suficientes para suprir as necessidades diárias
Cristina Christiano
Que a batata-doce é um excelente alimento quase todo mundo sabe. A novidade, contudo, é que agora, além de ser carboidrato saudável, rica em fibras, proteínas, vitaminas e diferentes sais minerais, uma nova versão dela também contém 50% a mais de betacaroteno, fonte natural de vitamina A. O tubérculo, desenvolvido por pesquisadores da Unesp, é uma alternativa de baixo custo para auxiliar no combate à insuficiência vitamínica A, que pode causar cegueira em crianças e enfraquecimento do sistema imunológico também em adultos. Outro benefício é que o cultivo auxilia na renda de pequenos produtores, já que o tempo de colheita é menor e a reprodução maior.
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O pesquisador Pablo Forlan, professor da Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira, em Registro (SP), explica que ele e sua equipe começaram a desenvolver o alimento no final de 2017, em parceria com o Centro Internacional da Batata -- referência na produção da leguminosa no mundo --, de Mocambique (África). Segundo conta, foram cultivadas mais de 1.000 mudas até se chegar, neste ano, na espécie desejada.
"Nós desenvolvemos três espécies, a partir de cruzamentos naturais promovidos em campo entre plantas pré-selecionadas cedidas pelo Centro Internacional da Batata. Ou seja, não houve nenhum procedimento artificial realizado no laboratório visando o melhoramento genético das plantas. As próprias abelhas se encarregaram do transporte do pólem. Após os cruzamentos, cerca de cinco mil sementes foram geradas e semeadas para avaliação. Para chegar até as três variedades tiveram as melhores performances", conta o professor Forlan. Mas explica que só uma das espécies, a de cor de poupa alaranjada, traz o benefício diferenciado com 50% a mais de betacaroteno.
Forlan explica que apenas o consumo de 100 gramas da nova batata-doce é capaz de suprir as necessidades diárias de vitamina A de uma pessoa. Ele aponta três grandes diferenciais da nova batata-doce: "Capacidade produtiva superior à média nacional, chegando a cerca de 45 toneladas por hectare -- a das versões normais atinge 15 toneladas; seu poder nutricional, por conta da quantidade mais elevada de betacarotenos, e o formato, que agrada mais ao mercado por ser mais longa, fácil de descascar, além de ser mais firme e seca no preparo de vários tipos de pratos", observa.
O produto já teve seu registro protocolado no Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento e foi aprovado por consumidores. Para avaliar a aceitação e apresentar a batata-doce à população, os cientistas realizaram uma série de ações. Uma delas foi na própria Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Jaboticabal (SP), onde alunos, funcionários, docentes e visitantes degustaram às cegas o alimento. "Nós cozinhamos as batatas-doces e oferecemos algumas amostras para os participantes provarem. Ao final da avaliação, as notas obtidas nos quesitos sabor, textura e aspecto geral foram todas melhores que as recebidas pelas batatas-doces convencionais", conta,
Por enquanto, a nova batata-doce está sendo oferecida a comunidades ribeirinhas do Vale do Ribeira e para famílias em situação de vulnerabilidade na região de Sorocaba, interior de São Paulo. "Ela está em precesso de transferência de tecnologia para cultivo e o objetivo é estender a produção para todo o estado", explica Forlan.