Trem de São Paulo vira laboratório de IA em parceria da TIC Trens e Inteli
Da sala de aula para os trilhos, universitários testam soluções de inteligência artificial na Linha 7-Rubi, a maior da capital paulista


Exame.com
Atendendo até 400 mil passageiros por dia em seus 57 quilômetros de extensão de trilhos, a Linha 7-Rubi não é apenas a maior do sistema ferroviário paulista, mas também está se tornando um campo de testes para inovação. Desde 26 de novembro, quando a concessionária TIC Trens assumiu a operação da linha, a empresa decidiu se aproximar da universidade para desenvolver soluções experimentais usando dos avanços da inteligência artificial e da Internet das Coisas (IoT).
A iniciativa ganhou forma por meio de uma parceria com o Inteli, instituto de ensino superior focado em tecnologia e liderança, e pertencente ao mesmo grupo que controla a EXAME. Ao longo de dois meses e meio, estudantes universitários trabalharam em projetos voltados à segurança operacional da ferrovia. Nesta sexta-feira, 19, os protótipos foram apresentados à presidência da concessionária, que agora avalia quais soluções seguirão para testes em campo.
A demanda apresentada aos alunos era direta: criar um sistema tecnológico e auditável de controle de acesso a áreas restritas da operação ferroviária, como trilhos, pátios e centros de comando. Cinco grupos formados por estudantes do primeiro ano de cursos como Engenharia de Computação, Engenharia de Software, Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Administração com foco em tecnologia trabalharam no desafio.
A cada quinze dias, técnicos da TIC Trens acompanhavam o avanço dos projetos, orientando ajustes para garantir viabilidade prática. O modelo adotado foi o de MVP, sigla em inglês para produto mínimo viável, que foi justamente usado para priorizar soluções que pudessem ser implementadas sem grandes investimentos ou complexidade operacional.
"Pensar inovação dentro de uma área supercentenária como a ferrovia e, ao mesmo tempo, trazer juventude, escola e possibilidades reais de implantação é algo fantástico. Todos saem ganhando", afirma Pedro Moro, CEO da TIC Trens.
Entre os protótipos apresentados estão o Argus, um sistema de check-in com câmeras, algoritmos de reconhecimento e dashboards de controle, e o TiConecta, que usa IA para identificar pessoas e objetos na via férrea em tempo real. Um dos pontos que mais chamou a atenção da empresa foi o custo: o Argus, por exemplo, pode sair do papel por cerca de R$ 400.
Carlos Ícaro Paiva, de 19 anos, estudante de engenharia de computação que participou do projeto, deixou Manaus para estudar no Inteli com bolsa integral. Com formação técnica em mecatrônica e interesse em IoT, viu no desenvolvimento do MVP uma chance rara de aplicar conhecimento acadêmico em soluções físicas e operacionais.
"O fato de saber que o que fizemos poderia ser implementado de verdade fez todo mundo se engajar ainda mais. A gente não estava desenvolvendo por desenvolver. Era algo que podia ir para o mundo real", diz Paiva.
Ensinar a errar, negociar e entregar sob pressão
Mais do que ensinar programação ou conceitos técnicos, o método defendido pelo Inteli parte da premissa de que a formação de profissionais de tecnologia exige contato precoce com o mundo real e com suas imperfeições.
Para a professora Fabiana Martins, orientar alunos significa expô-los a negociações com empresas de verdade, prazos curtos, decisões incompletas e falhas inevitáveis.
"A gente precisa ensiná-los a conversar com parceiros reais, a apresentar problemas sem medo", diz Fabiana, que também defende o aprendizado através dos erros. E também em um sinal claro de que a inovação, mesmo em setores tradicionais, pode nascer fora dos laboratórios corporativos — e chegar aos trilhos com rapidez e baixo custo.









