"Herdeiras da Glória Maria": grupo celebra pioneirismo da repórter
48 jornalistas negras se uniram em um aplicativo de mensagens, em 2022, para trocar afeto e experiências
Emanuelle Menezes
"Herdeiras da Glória Maria". Assim se intitula um grupo de produtoras, repórteres e apresentadoras negras que veem a jornalista, que faleceu na manhã desta 5ª feira (02.fev) em decorrência de um câncer com metástase no cérebro, como referência.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
As jornalistas "herdeiras" se uniram, em 2022, por meio de um aplicativo de mensagens, para trocar afeto e experiências, em um movimento de acolhida de suas iguais. Elas promovem encontros mensais, para que essa conexão não se perca, e segundo a jornalista da TV Bandeirantes, Cynthia Martins, para poder "se fortalecer". Sobre o nome do grupo, ela não titubeia:
"Não tinha outro nome, né? Foi essa mulher que abriu os caminhos para que a gente estivesse aqui", disse Cynthia para o SBT News.
Na manhã desta 5ª, as 48 mulheres que integram o grupo receberam a notícia da morte de Glória Maria com um misto de tristeza e muita surpresa. "Somos herdeiras dessa mulher que abriu caminho para gente e que hoje deixou a gente tão triste", afirmou Cynthia.
Letícia Vidica, apresentadora da CNN e uma das criadoras do "Herdeiras da Glória Maria", disse que Glória "é a inspiração e a responsável por abrir caminhos e fazer através da sua representatividade com que acreditássemos nos nossos sonhos". "Foi a Glória que abriu a porta", disse ela em outra publicação.
A jornalista Mariana Bispo, da TV Globo, que também faz parte do grupo, afirmou que "Glória me fez acreditar que eu também podia. Grande jornalista, reportou com maestria importantes fatos da história. Inspiradora! Grata por tantos caminhos abertos, Glória".
Âncora da Rádio CBN, Débora Freitas também agradeceu à Glória.
A pioneira Glória Maria, que começou no jornalismo na rádio-escuta, o coração da apuração de notícias, foi a primeira repórter a aparecer ao vivo, em transmissão a cores, no Jornal Nacional. O marco é ainda maior se pensarmos que, na década de 70, era ainda mais difícil ver mulheres negras na TV. Ainda hoje, a televisão -- e o jornalismo -- não representa com seus profissionais a realidade do povo brasileiro, composto em sua maioria por pretos e pardos. Mas as mudanças ocorridas desde 1971 se devem, em muito, pela vanguarda de Glória Maria.
Com esse grupo, uma geração de profissionais negras, mesmo após a morte da jornalista, reverencia sua ancestral.
* Essa reportagem foi atualizada às 13h40