Secretariado de Tarcísio tem bolsonaristas e partidos do Centrão
Vereador do PSC deverá ser anunciado em breve como futuro secretário de Desenvolvimento Social
Definindo parte dos nomes do futuro secretariado, o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que será diplomado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) nesta 2ª feira (19.dez), avançou nas últimas semanas no esclarecimento aos 46,6 milhões de moradores do território paulista de como será sua gestão no estado mais populoso e mais rico do país. Ao tomar posse, em 1º de janeiro de 2023, o ex-ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro (PL) dará início a um governo em que, em postos de comando dentre os principais abaixo do governador, atuarão ao menos bolsonaristas, ex-ocupantes de cargos no Executivo federal e integrantes de siglas do centrão.
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Até o momento, 12 nomes foram anunciados publicamente pela transição. Renato Feder, para secretário de Educação; Eleuses Paiva, para secretário de Saúde; Gilberto Kassab, para secretário de Governo; Guilherme Derrite, para secretário de Segurança Pública; Roberto de Lucena, para o Turismo; Arthur Lima, à Casa Civil; Natalia Resende, à pasta de Infraestrutura, Meio Ambiente e Transportes; Caio Paes de Andrade, à de Gestão e Governo Digital; Lucas Ferraz, para secretário de Assuntos Internacionais; Lais Vita, para secretária de Comunicação; Rafael Benini, à secretaria de Parcerias e Investimentos; e Samuel Kinoshita, para secretário da Fazenda e Planejamento. Outro nome já definido é o do vereador paulistano Gilberto Nascimento Jr., do Partido Social Cristão (PSC). Será secretário de Desenvolvimento Social. O anúncio oficial, conforme apurou o SBT News, deverá ser feito na próxima 2ª (19.dez) ou 3ª feira (20.dez).
Segundo o mestre em ciência política Pedro da Costa Júnior, doutorando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política na USP, até o momento, o secretariado de Tarcísio é composto "de três perfis, basicamente". "Ele traz colegas de ministério, tecnocratas, que serviram com ele no ministério, que são nomes conhecidos. Aí ele mistura com um eixo bolsonarista, com figuras bolsonaristas, e eu acho que quem fica com o 'filé mignon', pelo que já saiu, é o centrão. É o centrão, é o PSD do [Gilberto] Kassab e do [Guilherme] Afif, coordenador-geral da transição".
Kassab é economista, engenheiro civil, empresário e presidente nacional do Partido Social Democrático. Foi ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (2016-18), no governo Michel Temer (MDB), ministro das Cidades (2015-16), no governo Dilma Rousseff (PT), e prefeito da cidade de São Paulo (2006-13), além de deputado federal por São Paulo (1999-2005) e secretário municipal de Planejamento da capital paulista (1997-98). É conhecido por ser um hábil articulador político. Foi um dos principais articuladores para que a aliança entre Tarcísio e Felicio Ramuth (PSD) na corrida ao Palácio dos Bandeirantes se consolidasse. A chapa venceu, em segundo turno, com 9.881.995 votos.
Além de Kassab, outro filiado ao PSD que fará parte do secretariado é Eleuses Paiva. Ele integrou a equipe de campanha de Tarcísio e foi responsável por coordenar o tema da saúde na construção do plano de governo. É formado em medicina pela Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIt), especialista em medicina nuclear pela USP e professor assistente de imagenologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp). Foi presidente da Associação Paulista de Medicina (1995-99), presidente da Associação Médica Brasileira (1999-2005), vice-prefeito de São José do Rio Preto (SP) e deputado federal por São Paulo.
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Arthur Lima, Natalia Resende, Lais Vita e Rafael Benini trabalharam com Tarcísio no Ministério da Infraestrutura (MInfra). O primeiro é advogado formado pela UnB), bacharel em ciências militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e especialista em bases geo-históricas para Formulação Estratégica pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro. Foi diretor-presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e diretor-executivo do Fundo de Saúde da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. A segunda é procuradora federal e consultora jurídica no MInfra. Possui mestrado, doutorado em tecnologia ambiental e recursos hídricos pela UnB. Lais Vita, por sua vez, é jornalista e possui graduação na área pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), além de mestrado em estudos avançados em comunicação política pela Universidad Complutense de Madrid. Ela chefiou a Assessoria Especial de Comunicação do MInfra, de novembro de 2021 a maio de 2022; antes, de 2019 a 2021, foi chefe-adjunta da assessoria.
Já Rafael Benini é mestre em economia pela USP. Trabalhou na Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) de 2013 a 2019. Foi diretor de controle econômico dela de 2015 a 2019. De 2019 a 2022, atuou como diretor de planejamento na Empresa de Planejamento e Logística (EPL). De acordo com Tarcísio, o futuro secretário de Parcerias e Investimentos "é uma pessoa que se destacou muito na estruturação de projetos no Ministério da Infraestrutura".
Entre os bolsonaristas do secretariado, estão o deputado federal Guilherme Derrite (PL-SP), conhecido como Capitão Derrite, o deputado federal Roberto de Lucena (Republicanos-SP), cujo partido faz parte do centrão, e Gilberto Nascimento Jr. - também filiado a um partido do centrão. O primeiro é oficial da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), comandou o Pelotão das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), de 2010 a 2013, e o Pelotão de Força Tática no 49° Batalhão de Polícia Militar Metropolitano em 2013. É formado em direito e em ciências Policiais e segurança pública, e possui pós-graduação em ciências jurídicas e direito constitucional. Atua como deputado federal desde 2019. Lucena é pastor e foi presidente do Grupo Parlamentar de Apoio Brasil-Organização das Nações Unidas (GPONU) e secretário de Turismo em São Paulo em 2015 e 2016. É um dos líderes da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional. Já Nascimento Jr. é formado no Colégio da Polícia Militar e graduado em relações internacionais com especializações em desenvolvimento de projetos e gestão pública. Foi secretário estadual do Desenvolvimento Social de São Paulo, secretário da Justiça e Defesa da Cidadania do estado e secretário-adjunto de Desenvolvimento Metropolitano. Na Câmara Municipal paulistana, é o corregedor geral.
Sobram, dos nomes definidos, Renato Feder, Caio Paes de Andrade, Lucas Ferraz e Samuel Kinoshita. Feder foi secretário da Educação e Esporte do Paraná a gestão de Ratinho Júnior (PSD). De Andrade é presidente da Petrobras desde 28 de junho de 2022. É formado em comunicação social pela Universidade Paulista (Unip) em São Paulo, e possui pós-graduação em gestão pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e mestrado em administração de empresas pela Duke University, também nos EUA. Foi presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia (ME) no governo Jair Bolsonaro (PL).
Lucas Ferraz possui graduação e mestrado em engenharia química pela USP, além de doutorado em economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV). É o secretário de Comércio Exterior no ME e foi consultor sênior em comércio internacional para o Banco Mundial e a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). O último, Kinoshita, foi assessor especial de Paulo Guedes de 2019 a 2021 e integra o conselho fiscal do Banco do Brasil desde 2020. É graduado em economia pelo Insper, mestre em economia pela Universitat Pompeu Fabra (Barcelona) e mestre em estatística pela Columbia University (Nova Iorque). Participou do desenvolvimento do plano de governo da chapa vencedora na corrida ao Palácio dos Bandeirantes neste ano e, atualmente, coordena a área de economia da transição.
Refletindo sobre as escolhas dos futuros secretários, o cientista político Pedro da Costa Júnior diz que, em sua visão, Tarcísio "optou pelo centrão, pela governabilidade". "Ele sabe meio que jogar o jogo e está falando o seguinte: eu não quero ter problemas, eu vou compor isso aqui com o centrão. E aí, de maneira estratégica, ele compõe parte com bolsonaristas, que é uma parte de simbolismo importante. E também compõe uma parte com esses técnicos, mas não é um governo, quer dizer, de maioria nem técnica, nem bolsonarista, eles estão ali, mas o filé mignon é do centrão".
Segundo o cientista político e professor do Ibmec Fabio Lacerda ressalta, entretanto, que "a relação entre o governo estadual paulista e a Assembleia Legislativa sempre foi uma relação assim de predomínio do governador". "Em vários estados brasileiros isso acontece. Acho que na maioria, mas no caso de São Paulo isso é particularmente evidente. E eu estou chamando a atenção disso porque, no caso de São Paulo, tradicionalmente os governadores não precisam chamar muitos secretários vinculados a partidos. Ou seja, o governador paulista vai conseguir maioria legislativa independentemente de ter dado secretarias para partidos políticos", complementa.
Na próxima legislatura, na Alesp, o PL terá 19 deputados e o o PT, 18. Entre os demais partidos, a divisão está da seguinte forma: PSDB (9); Republicanos e União Brasil (8 cada), Psol (5); Podemos, MDB e PSD, (4 cada); PP e PSB (3 cada); PSC (2); Cidadania, Novo, PCdoB, PDT, Rede Sustentabilidade e Solidariedade (1 cada).
Pela quantidade de deputados do PSD, Fabio aponta que a quantidade de secretarias ao partido pode estar relacionada a uma tentativa de aproximação política, e não por maior apoio na Alesp. "Do ponto de vista de obter uma maioria legislativa, não faria sentido o Tarcísio dar uma secretaria para um partido tão pequeno na Assembleia". "Então, isso para mim só se explica se a gente pensar na dinâmica política nacional e entender que na verdade o Tarcísio está fazendo uma aliança aí com Kassab e com o PSD, visando um voo maior em 2026 ou 2030".
Ele relembra que a secretaria de Governo, a ser chefiada pelo presidente nacional do Partido Social Democrático, é importante. A pasta, conforme o governo de São Paulo," é responsável por coordenar os projetos, obras e serviços estaduais de grande impacto à população em integração com todas as secretarias, empresas e fundações do governo".
Gestão Tarcísio
Na avaliação de Pedro da Costa Júnior, o governo Tarcísio terá semelhanças com o do presidente Jair Bolsonaro, mas o político do Republicanos "tem um perfil mais moderado" em comparação com o do atual chefe do Executivo federal. "O Tarcísio tem um caminho já que vem mais ou menos do centrão. Ele foi do governo Dilma, precisa lembrar disso, ele tem um perfil um tanto mais técnico e também é de maior diálogo. E, desde a eleição, ele se descolou um pouco da figura do Bolsonaro, desse nicho ideológico mais radical, embora ainda seja muito colado. Quer dizer, ele faz um movimento assim que nem um fox, que a gente chamaria na ciência política, uma raposa. Ele está se movimento de uma maneira, ele não é um radical bolsonarista, mas ele está no campo bolsonarista sem dúvida nenhuma", pontua.
No início deste mês, o futuro governador paulista afirmou que nunca foi "bolsonarista raiz". "Comungo das ideias econômicas principalmente desse governo Bolsonaro. A valorização da livre iniciativa, os estímulos ao empreendedorismo, a busca do capital privado, a visão liberal. Sou cristão, contra aborto, contra liberação de drogas, mas não vou entrar em guerra ideológica e cultural", acrescentou. Mas voltou atrás, e no último final de semana, disse que o presidente tem sua "eterna admiração e gratidão". Bolsonaro o apoiou na corrida ao Palácio dos Bandeirantes.
Para Fabio Lacerda, "esse governo Tarcísio que está sendo gestado espelha um pouco o governo Bolsonaro". Contudo, acrescenta, sua impressão é de o governador eleito "vai tentar ser um herdeiro aí de um bolsonarismo um pouco mais civilizado ou com as arestas um pouco mais aparadas". "Então, isso já foi noticiado pela mídia amplamente, a gente tem várias figuras ou que compuseram o governo Bolsonaro ou que convites foram feitos para algumas figuras que mesmo tendo negado eram parte importante, como o Paulo Guedes, o Joaquim Leite. E mesmo o Guedes tendo negado, o seu braço direito aí vai ser secretário da Fazenda".
Diplomação
Nesta 2ª feira, serão diplomadas 169 pessoas pelo TRE-SP, incluindo, além de Tarcísio, o vice-governador eleito, Felicio Ramuth, os deputados estaduais e federais eleitos, e os futuros senadores e suplentes. "Cada um deles é chamado para receber no palco o diploma, documento que habilita para a posse", explica a Corte. A cerimônia será realizada às 11h na Sala São Paulo, nos Campos Elíseos, região central da capital paulista, e conduzida pelo presidente do TRE-SP, desembargador Paulo Galizia. Serão 852 assentos reservados para convidados pessoais dos diplomandos e 150 para autoridades convidadas. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado, "a Polícia Militar reforçará o policiamento na região central, na próxima 2ª feira, durante o evento". "O patrulhamento será intensificado nas imediações do local e nas principais vias de acesso da região", complementa o comunicado.
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