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Brasil

Entrevista: Ricardo Marcelo Fonseca

Reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Imagem da noticia Entrevista: Ricardo Marcelo Fonseca
Ricardo Marcelo Fonseca, reitor da UFPR
• Atualizado em
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De que forma os cortes afetam a UFPR?

O valor do orçamento discricionário da UFPR no ano passado foi de R$ 156 milhões. Na Lei Orçamentária deste ano, houve essa queda brutal, que tirou praticamente R$ 30 milhões. Vieram R$ 126 milhões. Houve ainda o bloqueio de cerca de 13%, o que fez com que fossem mais R$ 23 milhões bloqueados. Hoje, a universidade tem à sua disposição R$ 103 milhões, aproximadamente. É uma perda de 1/3. É trágico, porque o orçamento vem caindo continuamente pelo menos desde 2016. Existe uma queda numérica. Em 2016, era de R$ 185 milhões. A gente está numa situação absolutamente dramática em que as condições de funcionamento de todas as universidade estão colocadas em xeque. Não existe mais gordura para queimar. Ajustes estão sendo feitos continuamente desde 2017, às vezes às custas de coisas muito importantes. A atual diminuição não corta mais gordura, corta na carne. A pandemia abaixa despesas tradicionais, mas não diminui tanto o drama, porque contratos de limpeza, vigilância e manutenção, que são as maiores despesas, permanecem mesmo nesse momento. Neste ano, tem uma crueldade orçamentária adicional: a PNAS (Política Nacional de Assistência Social) também foi cortada. São verbas assistenciais, o que vai afetar profundamente os estudantes com dificuldade socioeconômica. Seguramente, a gente vai ver o aumento da evasão, e isso é um problema.

Há o risco de interrupção das atividades?

As atividades como um todo da universidade são afetadas. Se esse orçamento não for recomposto e o bloqueio não for revertido, te digo que não temos condições de chegar até o fim do ano. Vai chegar algum mês entre setembro e outubro que não vai ter dinheiro para pagar essas despesas básicas. Assim, não tem como funcionar. 

O que seria afetado?

Temos coisas relevantíssimas sendo feitas aqui. Temos uma pesquisa de vacina, um hospital com 200 leitos, estamos prestando um serviço social neste momento de pandemia que nenhuma instituição está. Não pode desistir. Vou lutar até o fim para manter a universidade respirando, nem que seja por aparelhos.

O senhor falou que não há mais gordura para queimar. Em que áreas já houve corte?

Em tudo. Ajustes nos nossos contratos internos de toda ordem, de vigilância, de limpeza, de manutenção, campanha de economia de água e luz. A gente teve que redimensionar bolsas. Dimensionar programas, dimensionar ações. E tem os serviços de assistência, que são a verba mais sensível, porque afeta a vida. A gente está segurando até agora, mas vai chegar um momento que não vai ser mais possível.

É possível pensar em um retorno às aulas presenciais?

Se não reverter esse cenário, não tem condições, neste ano, de ter um planejamento factível de retorno às aulas presenciais.

Qual a sua avaliação sobre esses cortes?

Desde 2015 para 2016, os cortes têm acontecido ano a ano. Compreendo que exista uma crise neste momento e temos que ter responsabilidade. Não estou ignorando a crise. Mas toda verba em educação não pode ser encarada como gastos. Deve ser encarada como investimentos. Em uma crise, você tem que ter prioridades. O que eu percebo é que a educação não foi colocada como prioridade em momento nenhum. Se olhar o conjunto do Orçamento da União todo, [o que foi cortado] não é tanto dinheiro, basta ver o quanto foi colocado para emendas parlamentares, por exemplo. Esse R$ 1 bilhão seria uma boia para fazer com que o sujeito não se afunde. A educação, a ciência e a tecnologia, que têm um caráter específico do compromisso com o futuro e papel indiscutível diante da pandemia, deveriam ser colocadas como prioridade.

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