Entrevista: Alfredo Macedo Gomes
Reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Fernando Jordão
De que modo os cortes afetam a UFPE?
É um impacto muito negativo na nossa universidade. Tivemos um corte de R$ 30 milhões, o que equivale a 20% do nosso orçamento. Na prática, voltamos ao orçamento de 2011. A persistir esse corte, teremos um impacto considerável no conjunto das ações que a universidade realiza. No funcionamento e manutenção da universidade, em contratos de limpeza, em infraestrutura, transporte e nos editais voltados à pesquisa, ensino, extensão e assistência estudantil. Várias ações teriam descontinuidade a partir de agosto, setembro. É fundamental a recomposição do orçamento das nossas instituições. Nossa luta é para que a recomposição seja integral em relação ao orçamento de 2020, o que permite um funcionamento relativamente adequado.
Há o risco de as atividades serem paralisadas?
Não temos risco de paralisação do conjunto das atividades. No entanto, várias atividades poderão ter descontinuidade. Teremos um impacto muito forte na questão da infraestrutura de laboratórios, em editais, na permanência de estudantes. [Será preciso] rever e reduzir contratos de empresas terceirizadas que temos. Deveremos diminuir a quantidade de pessoas nesses contratos para poder honrar esses pagamentos.
Os cortes nos orçamentos das universidades não são recentes. O que já foi afetado?
Temos tido cortes nos orçamentos desde 2015, sobretudo de 2016 para cá. Quando tem cortes, não se consegue fazer a manutenção adequada das universidades. Temos três campi, a gente precisa fazer ações o tempo todo de manutenção da infraestrutura, porque ela se deteriora naturalmente. [Temos] problemas com muitos equipamentos que a gente não consegue fazer a reparação, além de telhados e prédios que não temos recurso para fazer a manutenção. Também temos diminuído o conjunto de políticas para manter os estudantes. Seguramente haverá evasão e perda de qualidade no processo de formação. [A redução] dos contratos na área de segurança fragiliza o cuidado com o patrimônio da universidade. Precisamos de mais recursos para recuperar a infraestrutura. Temos um conjunto enorme de funcionários e, para que possa fazer a manutenção, é necessário que se tenha previsibilidade financeira. Hoje o que temos é uma situação sem nenhum tipo de previsibilidade, o que incomoda muito o gestor que é organizado.
Com o atual orçamento é possível retomar as aulas presenciais?
Se nós tivéssemos em situação de presencialidade, a gente estaria com muita dificuldade para fazer a manutenção. Com os cortes, não teria condições de retomar de imediato as aulas presenciais.
Qual a sua avaliação sobre os cortes?
Se você olhar como está distribuído o recurso do orçamento, vai verificar que teve áreas, por exemplo da segurança, que receberam aporte de recursos, e a educação, ciência e tecnologia foram muito afetadas com esses cortes. Não há prioridade da gestão federal às universidades. Há uma ausência de políticas públicas para uma área tão estratégica. Só vamos conseguir superar as grandes dificuldades com educação, ciência e tecnologia.