Por que com o Rio Grande do Sul?
Autora destaca à força e a história do Estado onde os antepassados gaúchos, europeus e indígenas construíram a riqueza da região
Nós, do Rio Grande do Sul, estamos passando pela maior catástrofe climática já ocorrida até hoje no Brasil. Parte do estado está submersa devido à cheia que nos atinge após sete dias de chuva.
Os mais de 300 milímetros de precipitação provocaram mortes e causaram enormes estragos em estradas, pontes e cidades inteiras, além de terem devastado lavouras e criações. Um dos principais rios do estado subiu 35 metros, alagando várias localidades produtivas do Estado.
Com tanta água, torna-se impossível diferenciar onde começa ou termina a plantação ou o pasto. Muitas áreas rurais estão isoladas, sem acesso por terra, energia, abastecimento de água ou internet.
Ainda é cedo para calcular prejuízos, mas já se sabe que serão gigantes. A safra de verão está na reta final, cerca de 70% dos grãos foram colhidos.
No caso do arroz, apesar de a lavoura ser irrigada, ela sofre o que se chama de ‘acamamento’, quando a planta se deita, e isso afeta o potencial produtivo.
Na soja, carro-chefe do agronegócio gaúcho, mesmo quem conseguiu colher está em alerta, porque a força da água arrasta a terra e leva os nutrientes do solo, além de a inundação prejudicar o que foi armazenado.
Em áreas de produção de leite, o problema é com a coleta, devido à dificuldade de acesso. A falta de energia também é outro ponto crítico, pois o leite é um produto extremamente perecível. E ainda há a questão da pastagem e da silagem.
No caso dos aviários, um setor forte no Vale do Taquari que está sendo duramente afetado, a falta de luz — para aquecer as aves — ou de água pode comprometer o cuidadoso trabalho dos produtores, e, nesses casos, a perda costuma ser total.
Fico me perguntando: por que isso tudo está acontecendo com o meu estado gaúcho? Primeiro, a seca e a escassez de água, e depois a enxurrada que levou tudo sem piedade, deixando dor para trás. Impossível não lembrar de nossos antepassados. O estado foi colonizado por negros europeus agricultores, além dos índios que já viviam aqui.
Foram nossos antepassados que fizeram a riqueza desta terra. Começaram tudo do zero, e é neles que teremos que nos inspirar para recomeçar agora, também do zero.
Talvez sejamos os mais preparados para sair de uma situação de crise como esta. As raízes de muitos brasileiros são deste estado.
Fazendo uma comparação com o ciclo de uma planta, a raiz é a força que segura, que é profunda, e que define a planta.
Força, gaúchos!