Brasil não vai poupar críticas à ação militar dos EUA na Venezuela, apesar da “química” nas negociações do tarifaço
Fontes do governo dizem que o país mantém posição de preocupação e rejeita qualquer tentativa de vincular política comercial à diplomacia na América do Sul

Murilo Fagundes
O Brasil não pretende moderar o tom diante de uma eventual ação militar dos Estados Unidos na Venezuela, mesmo com o avanço das negociações comerciais entre Brasília e Washington sobre o chamado “tarifaço”.
A avaliação de fontes do governo é de que qualquer movimento de força na região pode gerar instabilidade política e econômica em toda a América do Sul, e o país não está disposto a se omitir.
Integrantes do Executivo acompanham com apreensão a presença de navios e aeronaves norte-americanas no Caribe e consideram frágeis as justificativas apresentadas pela Casa Branca, baseadas em supostas conexões entre o governo de Nicolás Maduro e o narcotráfico.
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Um dos argumentos citados por interlocutores é o de que a maior parte das drogas que chega aos Estados Unidos entra pelo Pacífico e somente uma fração mínima pela rota caribenha, o que enfraquece o principal pilar da operação.
Nos bastidores, a leitura é de que uma ofensiva, mesmo limitada, teria potencial para desorganizar o equilíbrio político regional e fortalecer redes ilegais em países vizinhos.
Uma fonte ouvida pela reportagem resumiu o sentimento dentro do governo: o Brasil não vai “vender sua vizinhança” para obter recompensas em matéria de retirada de sanções.
Segundo essa fonte, não há hipótese de o país suavizar críticas ou se calar diante de uma ação que possa comprometer a segurança continental.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanha pessoalmente os desdobramentos e tem reiterado que a política externa brasileira não será usada como moeda de troca em negociações comerciais. A orientação é manter independência e priorizar a via diplomática como caminho para conter tensões.
Fontes destacam ainda que o Brasil está disposto a atuar como mediador, desde que haja interesse das duas partes. A posição do governo é de que a estabilidade da América do Sul depende de diálogo político e de cooperação regional, não de intervenções externas.