Adolescente de 13 anos escapa de encontro com aliciador após três meses de conversas online
Caso alerta para os perigos da internet e reforça a importância da supervisão dos pais no ambiente digital
Flavia Travassos
Por trás da tela do celular, uma menina de 13 anos, sem saber, se expôs ao perigo. Durante três meses, ela manteve conversas virtuais com um “novo amigo”, que se aproximava cada vez mais.
“Quando a gente ia jogar, ele mandava assim: ‘Oi, senhora, tá afim de jogar agora?’. Ele mandava desse jeito. Aí depois evoluiu. Foi pra ‘chuchu’. Depois pra ‘amor’. Depois ‘vida’. E aí foi indo”, contou a adolescente.
As perguntas começaram a ficar mais invasivas, como onde ela morava, onde estudava, onde a avó morava e até se estava sozinha em casa. Até que chegou o convite para um encontro presencial.
“Na hora que ele perguntou se a gente podia se encontrar, parece que... sei lá, parece que alguém tinha falado: não vai, não vai, vai acontecer alguma coisa. Aí eu não fui. Aí eu mandei mensagem pra ele: ‘não vai dar porque eu tenho um compromisso’. E ele falou assim: ‘você não pode desmarcar? Fala que você vai com suas amigas’”, conta.
+ Como proteger informações com superexposição em redes sociais?
A mãe da adolescente soube da conversa, registrou um boletim de ocorrência e descobriu que o “amigo virtual” era, na verdade, um homem de 30 anos.
“A gente tem essa mania de achar que estar dentro de casa ia estar segura, né? Ela não sai desacompanhada. Ela nem nunca no prédio, no ramo do prédio, ela ficava sem acompanhamento. De repente, dentro de casa, na sala, no quarto, estava sofrendo essa violência”, relatou Kaísa Romagnoli, mãe da jovem.
Para tentar conter crimes como esse, a Meta — empresa responsável pelo Facebook, Instagram e WhatsApp — anunciou novas regras. Agora, menores de 16 anos só poderão realizar transmissões ao vivo com autorização dos pais, e filtros automáticos de nudez só poderão ser desbloqueados com ciência do responsável.
Segundo uma associação internacional que reúne 55 canais de denúncia de crimes na internet, o Brasil registrou quase 49 mil páginas suspeitas no último ano. O país ocupa a quinta posição no ranking global de denúncias de abuso infantil online.
"Acho que é muito benéfico esse movimento das empresas fazerem isso. Esse controle é extremamente necessário, até porque o mundo digital é o mundo na palma das mãos da criança e do adolescente, que ainda não tem um cérebro maduro e não tem capacidade de controle de impulsos, dos riscos, e muitas vezes está isolado no seu quarto”, comentou Priscilla Montes, educadora parental.
As restrições impostas pelas redes sociais ainda são insuficientes, apontam especialistas, que defendem o controle também dentro de casa, com participação ativa dos pais na proteção de crianças e adolescentes.
A mãe da adolescente relembra o impacto emocional do caso: “Ela demorou para aceitar que aquilo ali era um fake. Mesmo eu provando, mostrando para ela, ela tinha estabelecido um vínculo amoroso ali, sentimental. Então ela sofreu bastante. Foi horrível ver minha filha sofrendo por um perfil fake que estava abusando, cometendo um crime. É um crime isso.”
Hoje, aos 15 anos, a estudante mudou completamente sua postura na internet. “E aí eu tenho medo hoje em dia. Eu nem converso mais pela internet. (...) Não passo mais nada pra ninguém”, afirmou.