Caso Vitória: como proteger informações com superexposição em redes sociais?
SBT News conversou com especialistas para entender como adolescentes – e adultos também – podem se proteger no ambiente digital

Emanuelle Menezes
A investigação sobre a morte da jovem Vitória Regina de Sousa, que ficou desaparecida por uma semana e foi encontrada em um matagal de Cajamar, na Grande São Paulo, mostrou que Maicol Antonio Sales dos Santos, assassino confesso da adolescente, monitorava os passos dela pelas redes sociais. Segundo a Polícia Civil, ele era um "stalker".
No dia do desaparecimento, Vitória fez uma publicação nos stories do Instagram, em que dizia que estava voltando para casa após o trabalho. "Bora pra casa descansar, que amanhã tem mais", escreveu ela em uma foto tirada no ponto de ônibus. Ela também marcou o horário em que a foto foi feita.
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Maicol tirou um print do story da adolescente. Junto a esse registro, a Polícia Civil encontrou dezenas de fotos de Vitória e de outras mulheres com perfil parecido ao da jovem. Para os investigadores, o suspeito tem o perfil de um "stalker" – termo em inglês que define um perseguidor obsessivo.

O SBT News conversou com especialistas para entender como adolescentes – e adultos também – podem se proteger nas redes sociais. Primeiro, segundo Ricardo Lins Horta, da Secretaria de Direitos Digitais do Ministério da Justiça e Segurança Pública, é preciso reconhecer que seguir as recomendações de segurança não garante que se está fora de perigo. "Todo mundo está sujeito a riscos no ambiente digital, infelizmente", diz.
A juíza Vanessa Cavalieri, titular da maior Vara da Infância e Juventude do país, a do Rio de Janeiro, alerta sobre os perigos do ambiente digital. "É um ambiente perigoso, ele não é seguro. É um ambiente público, não é um ambiente privado". Para a magistrada, crianças e adolescentes são as "vítimas mais fáceis" no mundo online.
Os dois são categóricos: as preocupações com relação ao mundo real devem ser levadas para o digital. Cavalieri compara as plataformas digitais a ruas escuras, sem sinalização e cheias de estranhos. "Não é uma rua iluminada. É um lugar esquisito, escuro, que tem criminosos à espreita. Se na rua a gente não tem certeza se tem um criminoso por perto, na internet a gente tem certeza que tem. Com certeza vai ter", afirma a juíza.
"É importante, sobretudo entre adolescentes mais jovens, que os pais e as mães tenham a supervisão que a gente sempre teve no mundo analógico. Vamos imaginar o mundo pré-internet: os pais e as mães procuravam saber onde as crianças e adolescentes estavam frequentando, com quem estavam conversando, conhecer as famílias das outras pessoas com quem se relacionam. São regras de bom senso que continuam valendo para o ambiente digital", diz Lins Horta, que é coautor do Guia sobre Uso de Dispositivos Digitais do governo federal.
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Os especialistas listaram uma série de medidas que podem garantir mais segurança nas redes sociais de adolescentes e adultos. O uso de dispositivos eletrônicos não deve ser feito por crianças, orientam. Veja abaixo a lista:
- Não deixe o perfil aberto;
- Não aceite solicitação de amizade de desconhecidos;
- Não poste em tempo real. Só publique fotos e vídeos de locais que você visitou após sair do lugar;
- Não publique a sua localização;
- Se tiver filhos, não poste fotos que exponham o corpo deles (de calcinha ou de cueca) ou onde estudam (uniformes escolares);
- Não fale com estranhos.
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Além disso, eles citam cuidados que pais e responsáveis podem ter com o uso de plataformas digitais pelos adolescentes:
- Adiar a entrada de crianças no mundo tecnológico. O "Crianças, Adolescentes e Telas: Guia sobre Uso de Dispositivos Digitais", do governo federal, afirma que o uso de smartphones próprios não é recomendado antes dos 12 anos. Cavalieri recomenda que smartphones só sejam dados a adolescentes a partir dos 14 anos e que a entrada nas redes sociais aconteça aos 16 anos;
- Pais e responsáveis devem conversar sobre os riscos que existem no ambiente digital. É necessária uma educação digital para os adolescentes;
- O uso das redes sociais por adolescentes deve ser supervisionado pelos responsáveis. Existem aplicativos para controle parental, por exemplo;
- São necessárias regras e combinados. "Só conversar não basta", diz Cavalieri. As principais recomendações da juíza são sobre o limite no tempo de uso e a hora de desligar o dispositivo eletrônico.