Qual é o impacto da automação e da IA na saúde mental de trabalhadores?
Risco de demissões desafia o equilíbrio emocional nas empresas, exigindo novas estratégias para a saúde mental

Brazil Health
A automação e a inteligência artificial (IA) estão cada vez mais presentes no dia a dia profissional. Sua chegada não se faz notar por demissões em massa, mas sim por uma substituição progressiva de funções humanas por sistemas, bots e algoritmos – em silêncio, porém com efeitos cada vez mais profundos.
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Embora frequentemente celebrada pela eficiência, essa transformação tecnológica carrega um custo humano crescente: o adoecimento mental invisível que se instala nas organizações.
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Ansiedade invisível: efeitos da transformação digital no bem-estar
Segundo o relatório The Future of Jobs 2023, do Fórum Econômico Mundial, até 2027, 44% das competências atualmente exigidas no mercado serão transformadas. Estima-se que mais de 83 milhões de empregos deixarão de existir, enquanto novas funções surgirão com exigências ainda pouco definidas.
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Essa transição provoca o chamado apagamento simbólico, termo usado por especialistas para descrever a sensação de obsolescência vivida por profissionais diante de um futuro incerto. O descompasso entre as competências já adquiridas e as que serão exigidas cria ambientes inseguros, favorecendo o aparecimento de sintomas como ansiedade, burnout e depressão.
Aumento de transtornos mentais nas organizações
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2023), os transtornos mentais relacionados ao trabalho já são a principal causa de afastamentos profissionais no Brasil. Isso representa não apenas uma questão de saúde pública, mas também um risco para a produtividade e sustentabilidade das empresas. O avanço da tecnologia é inevitável, mas o adoecimento não precisa ser.
O desafio está em garantir que a revolução digital aconteça com consciência, responsabilidade e com as pessoas no centro da estratégia. A IA deve ser usada para potencializar competências humanas – e não para invalidá-las.
Cuidando das pessoas na era digital
Para os profissionais:
- Atualize-se. Aprenda sobre IA, mas também desenvolva competências humanas;
- Invista em power skills: empatia, pensamento crítico, criatividade, colaboração e resolução de problemas complexos;
- Cuide da saúde mental. Busque apoio, pratique o autoconhecimento e adote estratégias de equilíbrio emocional;
- Reinvente sua narrativa profissional. Reconheça seu valor no ecossistema digital;
Para empresas e líderes:
- Implantem programas reais de desenvolvimento humano, e não apenas treinamentos técnicos;
- Criem ambientes psicologicamente seguros, onde colaboradores possam expressar dúvidas, medos e ideias;
- Transformem a cultura digital em uma cultura humanizada, que integre tecnologia com propósito;
- Invistam em uma liderança sensível, capaz de guiar equipes com empatia em meio à incerteza.
Conclusão
A revolução tecnológica já começou – mas não basta otimizar processos. É preciso cuidar das pessoas que os sustentam. Que a inteligência artificial seja uma aliada, mas que o humano, com sua complexidade, sensibilidade e ética, continue sendo nosso maior ativo.
*Andreia Nunes de Sousa é psicóloga, mentora em desenvolvimento humano e organizacional credenciada pelo CRP 13/0710