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Pesquisa da USP investiga idosa de 119 anos para entender envelhecimento saudável

Estudo busca compreender as diferenças genéticas das pessoas que envelhecem com boa saúde, como Deolira da Silva, que pode entrar no Guinness Book

Pesquisa da USP investiga idosa de 119 anos para entender envelhecimento saudável
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Nascida no dia 10 de março de 1905, Deolira Glicéria Pedro da Silva completou 119 anos na semana passada. Ela não tem nenhum problema de saúde significativo nem faz uso de medicamentos controlados. O caso da super idosa motiva pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) a buscar uma resposta para uma pergunta: o que está por trás do envelhecimento saudável?

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"Uma raridade da raridade", disse o doutor em biologia Mateus Vidigal, do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da USP, um dos responsáveis pelo estudo sobre Dona Deolira, que pode entrar para o Guinness Book, o livro dos recordes, como a mulher mais velha do mundo. Ele conta que conheceu a idosa, moradora de Itaperuna, município com um pouco mais de 100 mil habitantes no noroeste do estado do Rio de Janeiro, há cerca de dois anos.

Dona Deolira  - Reprodução/Internet
Dona Deolira - Reprodução/Internet

Desde então, ele e mais dois pesquisadores desenvolvem um estudo que busca descobrir os biomarcadores responsáveis por fazer a pessoa envelhecer com saúde.

"O biomarcador é uma molécula que está relacionada a uma condição específica. Por exemplo, existem biomarcadores relacionados à função cardiovascular e cerebral (comumente relacionadas ao envelhecimento) que podem ser usados para monitorar a saúde e identificar intervenções personalizadas para promover um envelhecimento saudável", explica

Em outras palavras, o biomarcador pode antecipar o diagnóstico de doenças comuns. Se o estudo conseguir desvendar o marcador vinculado ao envelhecimento "será possível o desenvolvimento de estratégias, farmacológicas ou terapêuticas, para retardar ou mitigar (reduzir) os processos de envelhecimento que não são saudáveis", completa o pesquisador.

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A pesquisa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e com coordenação da Doutora Mayana Zatz, é realizada apenas com centenários, ou seja, pessoas com mais de 100 anos, e busca descobrir, por meio de técnicas biológicas de coleta de sangue, além de análise do genoma (o DNA), quais são as diferenças entre aqueles que envelheceram saudáveis e outros que acabam adoecendo.

Como acontece o envelhecimento?

É um processo biológico complexo e muitos autores, inclusive, acreditam que já estamos envelhecendo desde quando nascemos, mas pesquisas apontam que começamos a "sentir" os efeitos do envelhecimento partir dos 30 anos, pontua Mateus.

"O envelhecimento leva em conta as perdas funcionais, os declínios. Na infância e na adolescência, no entanto, acabam não sendo perceptíveis. Elas só começam a ser percebidas, para algumas pessoas, na faixa dos 30 anos. E ainda não se sabe o porquê", explica

Um outro componente genético ligado ao envelhecimento é a chamada "senescência (envelhecimento) celular". É um processo natural do metabolismo em que algumas células vão perdendo a capacidade de se renovar, o que causa danos em tecidos e órgãos do corpo. Além disso, pode levar a doenças e fragilidades no sistema imunológico.

"Hipoteticamente, o uso de células-tronco poderia substituir células senescentes (envelhecidas) e liberar importantes substâncias anti-oxidativas (pró-regenerativas), regenerando tecidos e órgãos 'danificados' pelo processo de envelhecimento. Mas isso ainda está em fase de estudos e não há tratamentos amplamente reconhecidos ou aprovados para esse fim", explica

Além da genética, outro fator é o estilo de vida da pessoa: sedentarismo, exposição aos raio ultravioletas (UV) (emitidos pelo sol), exposição à poluição, alimentação desregulada, tabagismo, consumo de álcool, dentre outros elementos ambientais influenciam negativamente no processo de envelhecimento.

Brasileiros não estão bem representados em estudos sobre longevidade

O pesquisador ressalta que a maioria dos estudos genéticos internacionais levam em consideração uma população com ancestralidade europeia caucasiana (branca), o que pode trazer uma falta de representatividade para outras populações, como a brasileira, que é altamente miscigenada e conta com pessoas de ascendência europeia, africana, nativa americana, dentre outras etnias.

"Nossa investigação visa a identificar variantes genéticas (variações no DNA) 'exclusivas' de nossa população", pontua

"Velhice" é uma construção social

O pesquisador ressalta que não utiliza o termo “velhice”, por ser uma construção social, demarcada como a “última fase da vida”. Ele prefere encarar o fenômeno como um processo.

"A gente não fala mais 'pessoas velhas' e, sim, do 'processo de envelhecimento'", explica

Pesquisadores estão recrutando centenários

Caso você conheça alguma pessoas com mais e 100 anos que esteja com boa saúde, pode enviar um e-mail para: mateusvidigal@usp.br

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