Mortes de crianças por bronquiolite crescem 62% em 2023; casos diminuíram na pandemia
Cerca de 80% dos óbitos acontecem em crianças saudáveis, alerta o presidente do setor de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
Cresceu 62% o número de mortes de crianças com 0 até 4 anos por bronquiolite no Brasil em 2023, na comparação com 2022. Os dados são do Ministério da Saúde. Desse total, cerca de 80% dos óbitos acontecem em crianças saudáveis. É o que alerta o responsável pelo setor de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Marco Aurélio Safadi.
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"A grande maioria dos casos de bronquiolite tem uma evolução favorável, mas há um percentual de casos que apresentam um comprometimento no trato respiratório inferior. Isso em um bebê muito jovem pode representar um impacto muito grande, que pode levar à insuficiência respiratória", explica
De acordo com a Saúde, 369 pessoas dessa faixa-etária morreram em 2022, enquanto 592 mortes foram registradas no ano passado.
Marco Aurélio disse que as medidas de restrição na pandemia da Covid-19 colaboraram com a diminuição de casos da doença e que a tendência atual apenas reflete os patamares anteriores ao período.
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"Nunca vimos um comportamento igual. As medidas de restrição da Covid-19, uso de máscaras e fechamento de escolas contribuíram muito para reduzir a circulação do Vírus Sincicial Respiratório (VSR)", afirmou o especialista
A partir de 2022, houve o retorno da maior circulação do VSR, mas com valores ainda tímidos. O fenômeno foi observado no Brasil e em diversos outros países.
No entanto, ele ressalta que há uma diferença entre os impactos das doenças respiratórias de países do mundo.
"Populações de países de baixa e média renda acabam tendo um impacto muito maior em termos de mortes e hospitalizações relacionadas a doenças respiratórias do que em outros países", explica
Segundo Safadi, 90% das mortes por Vírus Sincicial Respiratório (VSR) ocorrem nos países de "baixa e média renda", por falta de acesso a atendimento hospitalar.
O que é a bronquiolite?
A bronquiolite é uma infecção dos bronquíolos, estruturas que levam o ar da traqueia aos pulmões.
Apesar de ser causada principalmente pelo VSR, a bronquiolite pode vir também do adenovírus, o parainfluenza, o vírus influenza, o rinovírus, o bocavírus.
Como funciona a transmissão?
Já que é viral, a transmissão é via respiratória ou por contato físico. Os riscos acontecem em um ambiente fechado, de acordo com Nathan, e a transmissão pode ocorrer entre as crianças pelo contato com a secreção pelo ar ou pelo toque.
Prevenção
Sintomas
Em casos leves, os sintomas são de um resfriado:
- Coriza;
- Congestão nasal;
- Tosse com secreção;
- Febre baixa.
O chiado respiratório, característico da doença, no agravamento do quadro pode causar insuficiência respiratória grave na criança, gerando cansaço e uso de musculatura acessória: entre as costelas e na barriga, segundo Nathan.
Com vacina, criança pode "nascer imunizada"
A vacina da Pfizer, denominada Abrysvo é muito eficaz, de acordo com os especialistas ouvidos pelo SBT News. Ela é destinada para prevenção da doença em crianças desde o nascimento até os 6 meses, por imunização ativa em gestantes. A aprovação do registro da vacina permite que ela seja distribuída para a população para aplicação conforme as orientações da bula.
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"Como o sistema imune do recém-nascido não tem anticorpo contra o vírus, você vacina a mãe, que desenvolve os anticorpos contra o VSR e a criança nasce imunizada", ressalta André Nathan, pneumologista do Hospital Sírio Libanês
O pneumopediatra Fabio Muchão ressalta que os anticorpos podem ser transmitidos ao bebê pela placenta da mãe. Segundo a Anvisa, a Abrysvo é bivalente, porque é composta por dois antígenos de uma proteína da superfície do vírus sincial respiratório. A administração é intramuscular e em dose única, no segundo ou terceiro trimestre da gestação.
Tratamento e outras formas de prevenção
Como é uma infecção viral, o tratamento é de suporte: pode incluir hidratação, inalações com soro e, em alguns casos, fisioterapia respiratória. Para prevenção da doença, além das medidas de higiene, como lavar as mãos e usar máscaras, Muchão ressalta que existem o anticorpos monoclonais com intuito de prevenir a doença para bebês com doença cardíaca congênita, por exemplo. Mas ele disse que, em breve, podem chegar os medicamentos do gênero que podem ser usados por todos os bebês.
No entanto, os medicamentos foram introduzidos apenas em países da Europa e os Estados Unidos.
"É um anticorpo pronto que você dá para o bebê assim que ele nasce, com duração de pelo menos cinco meses", explica Safadi