Imediatamente, ela me disse que não deixaria a doença progredir. Ela queria acabar com isso na Dignitas. Fiquei realmente chocada - primeiramente com o diagnóstico e, depois, com sua decisão imediata de morrer antes do “fim”.
No mesmo dia em que Marjorie* soube do diagnóstico de câncer de sua mãe, ela também foi informada da decisão de deixar o Reino Unido rumo à Suíça, onde a matriarca poderia optar legalmente por uma morte assistida. Apesar de ter reservas quanto a esse anúncio abrupto, Marjorie concordou em ajudá-la na viagem. Ela nos disse que sua mãe havia feito a escolha “porque sempre foi muito independente e odiava a ideia de ter que depender de mim. Ela era uma cientista. Isso estava de acordo com sua abordagem bastante racional da vida”.
Mas havia outro motivo pelo qual a mãe de Marjorie se candidatou a fazer parte da organização suíça sem fins lucrativos Dignitas, que oferece suicídio assistido por médicos a pessoas com doença terminal, ou doença física ou mental grave. A mãe foi marcada pela experiência de ter visto seu próprio pai morrer, e não pode ajudar a abreviar o sofrimento. Como Marjorie explicou:
O vovô sempre teve o controle de tudo, mas isso lhe foi negado em sua morte. Minha mãe era muito próxima a ele. Quando ele começou a morrer, implorou para que isso acontecesse logo. Porém, ainda levou mais três dias em sofrimento até a morte chegar. Minha mãe disse que a experiência confirmava sua opinião de que era necessário ter um plano no bolso para quando isso acontecesse. Aconteceu quando ela recebeu o diagnóstico.
A história de Marjorie é apenas uma das milhares que ocorrem em todo o mundo a cada ano. Alguma forma de morte acelerada é legal, ou está em vias de se tornar legal, em todos ou em parte de pelo menos 13 países, e está sendo considerada em vários outros.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, disse que apoia uma mudança na lei sobre a morte assistida. Atualmente, a Inglaterra e o País de Gales têm sido amplamente criticados por sua falta de clareza sobre o assunto. Uma equipe policial está sendo processada por prender um cidadão que estava retornando da organização Dignitas, sob suspeita de incentivar o suicídio.
Enquanto isso, o Parlamento escocês parece estar pronto para seguir a Irlanda na legalização do direito de morrer com assistência em casos previstos. Em Jersey e na Ilha de Man a legislação já foi aprovada. Optar por abreviar o fim da vida é uma decisão muito pessoal e cuidadosamente considerada. Mas, raramente é tomada de forma isolada: as pessoas contam com o apoio emocional e prático de familiares, amigos e médicos de confiança. Depois que a morte ocorre, elas continuam conectadas ao episódio para testemunhar sobre a jornada extraordinária - e suas próprias experiências.
Com colegas da Universidade de Lancaster, nós entrevistamos a família e os amigos de muitas pessoas que decidiram apressar a própria morte, seja por meio da eutanásia (quando um médico administra medicamentos letais), do suicídio assistido (um médico prescreve um medicamento, mas o paciente o administra por conta própria) ou da interrupção voluntária da ingestão de alimentos e bebidas. Também conversamos com profissionais de saúde que estiveram várias vezes presentes no processo de mortes aceleradas.
Muitos relatos de quem decidiu ajudar alguém nessa empreitada continham o sentimento de uma enorme responsabilidade. Alguns descreveram a incumbência como uma “honra”, que pode ter sido parcialmente motivada por sua convicção moral de ajudar a evitar o sofrimento desnecessário, já que não há esperança de cura, e dar dignidade para a despedida final da vida.
No entanto, as pessoas com quem conversamos estavam sempre cientes de serem julgadas por outras pessoas, tanto por terem escolhido apressar a própria morte ou por terem ajudado outros com o mesmo objetivo. Em alguns casos, isso levou a sentimentos duradouros de culpa e ansiedade, complicando a dor já gerada por ver - e ajudar - um amigo próximo ou ente querido a falecer.