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Saúde

Moradores de favelas consomem mais produtos ultraprocessados

Estudo da UFMG aponta que população enfrenta falta de informação sobre alimentação adequada, restrições de renda e número reduzido de estabelecimentos que oferecem alimentos saudáveis por preços acessíveis

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Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) analisou a influência do ambiente alimentar sobre as escolhas dos moradores de favelas brasileiras. O estudo observa a dificuldade de acesso dessas pessoas a alimentos saudáveis. Segundo a pesquisa, essas opções não são consideradas, pela falta de informação sobre alimentação adequada, por dificuldades financeiras e pela quantidade limitada de estabelecimentos que oferecem alimentos saudáveis a preços acessíveis.

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O consumo dos alimentos ultraprocessados está associado a problemas de saúde. “Obesidade, diabetes, hipertensão. Estamos também começando a ver alguns estudos relacionados com distúrbios mentais comuns, como depressão e ansiedade, doenças que se desenvolvem ao longo do tempo com o consumo”, disse Luana Lara Rocha, pesquisadora da UFMG e uma das autoras do artigo.

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Para obter os resultados, as autoras do estudo realizaram dois grupos focais online de duas horas de duração com 27 moradores de favelas de diferentes cidades do país, em novembro de 2022. A maior parte dos participantes era do sexo feminino (80%), com idades entre 18 e 30 anos (60%), e representação racial diversa – 30% dos participantes eram pretos, 30% pardos, 30% brancos e 10% indígenas. A maioria residia em favelas do Sudeste do Brasil (60%).

O trabalho indica que os moradores enfrentam desafios significativos em relação ao ambiente alimentar. A falta de acesso físico e financeiro à comida saudável e a alta disponibilidade e promoção intensiva de produtos ultraprocessados dificultam a adoção de uma dieta nutritiva e levam a escolhas alimentares confusas. O transporte entre casa, trabalho ou local de estudo também reduz o tempo disponível para comprar e preparar alimentos, segundo aponta o estudo do Grupo de Estudos, Pesquisas e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde (GEPPAAS) da UFMG, coordenado pela professora Larissa Loures Mendes.

Segundo Luana, a maioria dos participantes mencionou a importância de integrar diariamente verduras, legumes, frutas, carnes, arroz e feijão à alimentação. Alguns observaram que os preços elevados desses alimentos representam um obstáculo para a inclusão regular. “Eles expressaram o desejo de aumentar o consumo e a variedade de frutas, alimentos orgânicos, peixes e castanhas, desde que suas condições financeiras permitam. Além disso, destacaram a falta de tempo como uma barreira para diversificar a alimentação e preparar refeições de melhor qualidade”, observa Luana.

A autora explica que a condução de estudos específicos para áreas de comunidades é importante para captar as particularidades desses locais. Cerca de 16 milhões de brasileiros moram em favelas, segundo dados do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – o que corresponde a 7,4% da população do país. Esse conhecimento auxilia na elaboração e no aprimoramento de políticas públicas e programas que incentivem a oferta de alimentos saudáveis a preços acessíveis, bem como estratégias e ações concretas relacionadas ao transporte, à segurança e ao ambiente desses locais que interferem no acesso aos alimentos. “A complexidade dos problemas relacionados à vida urbana na favela exige soluções específicas e integradas”, aponta a pesquisadora da UFMG.

A identificação dos fatores que impactam o acesso aos alimentos em favelas levou os pesquisadores a desenvolverem um instrumento para avaliar a percepção desse acesso. Agora, Luana planeja conduzir uma pesquisa de campo com esta ferramenta, em Belo Horizonte, para coletar informações sobre o ambiente alimentar, a segurança alimentar e nutricional e o estado nutricional das crianças das favelas do município. “Os dados obtidos serão reunidos e apresentados aos gestores responsáveis pelas políticas públicas de alimentação, nutrição e segurança alimentar e nutricional”, conclui a pesquisadora.

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