Meu filho entrou no Tinder. E agora?
Como os pais podem ajudar os filhos a lidar com os riscos e as possibilidades dos apps de relacionamento
Brazil Health
Aplicativos de relacionamento estão cada vez mais presentes na vida dos jovens como ferramentas para conhecer pessoas e construir vínculos. Tinder, Happn, Bumble, entre outros, têm transformado significativamente a maneira como as pessoas se conectam, especialmente na busca por relacionamentos estáveis. As plataformas, que antes eram vistas apenas como meios para encontros casuais, agora desempenham um papel relevante na formação de vínculos emocionais. Grande parte dos casais atuais se conheceram por essas ferramentas.
Para os pais dos jovens, porém, ver o filho ou a filha se inscreverem nesse tipo de ferramenta pode trazer preocupações. Sobre a segurança, sobre a maturidade emocional e sobre possíveis impactos psicológicos. Saber como abordar esse tema é essencial para construir uma relação de confiança e proteger os filhos de possíveis riscos nesse novo universo digital.
Como falar com seus filhos sobre apps de namoro?
1. Compreenda a perspectiva dos jovens. Para muitos, os aplicativos de relacionamento são uma extensão da socialização digital. Eles podem ser usados para explorar novas amizades, paqueras e até mesmo aprender mais sobre relacionamentos em geral. Antes de julgar, é importante que os pais compreendam o contexto cultural em que seus filhos estão inseridos e evitem reações imediatas de reprovação.
2. Estabeleça sempre um diálogo aberto e contínuo. Essa é a chave para construir confiança. Evitar o tema ou reagir com críticas pode levar o jovem a esconder suas ações. Um espaço aberto para conversas cria oportunidades para discutir limites e possíveis riscos de forma colaborativa. Fale sobre as expectativas, discuta temas como respeito, consentimento e autoestima nos relacionamentos, e demonstre que você está disponível para conversar sempre que surgir uma dúvida ou problema.
3. Oriente sobre os riscos e cuidados online. Embora os aplicativos tenham se tornado comuns, é crucial que haja discussões sobre os riscos associados a essa nova forma de se relacionar, como exposição a conteúdos inadequados, assédio ou até mesmo golpes. Sem contar que os aplicativos frequentemente incentivam a criação de perfis que destacam apenas os aspectos mais positivos da vida e da personalidade de seus usuários. Essa condição pode gerar expectativas irreais, aumentando a probabilidade de frustração quando a realidade não corresponde à idealização.
Para lidar com essas questões, vale a pena abrir espaço para temas sobre o uso responsável da tecnologia, na tentativa de evitar a dependência emocional desses aplicativos.
Quais os riscos dos apps de namoro?
A dinâmica baseada em “matches” – ou curtidas – pode criar um ciclo viciante de validação externa. Isso pode aumentar a ansiedade social e dificulta o desenvolvimento da autoestima. Além disso, o imediatismo dos aplicativos frequentemente incentiva a conveniência e a velocidade nas interações, dificultando a profundidade e a disponibilidade para investir em relações mais sólidas.
Os aplicativos de relacionamento oferecem oportunidades valiosas para conhecer pessoas, mas, como em qualquer situação cotidiana, podem apresentar desafios emocionais e psicológicos. Esses aplicativos podem fazer parte da realidade dos jovens, mas isso não significa que os pais devam se afastar ou ignorar o tema. Pais e jovens, ao compreenderem os impactos dessas plataformas e adotarem estratégias conscientes de uso, possibilitam que a navegação por essas ferramentas ocorra de forma mais equilibrada.
*Flávia Carnielli é psicóloga, CRP SP 06/95142