Dia Mundial da Saúde: como transformar sua ansiedade em algo útil?
Neurocientista fala dos "superpoderes" que a ansiedade pode ativar quando canalizada corretamente — e explica como fazer isso; entenda

Wagner Lauria Jr.
Ansiedade é uma emoção quase universal, mas, quando ela passa do ponto, vira transtorno. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiros sofrem com transtornos de ansiedade. Nesses casos, é necessário tratamento.
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No entanto, a neurocientista Wendy Suzuki pontua que cerca de 90% da população mundial sofre de uma ansiedade "cotidiana" — diferente dos transtornos clínicos diagnosticados.
E ela quer mudar a forma como o mundo enxerga essa emoção.
Professora da Universidade de Nova York, ela dedica sua carreira a estudar como o cérebro lida com emoções, memória e cognição, e acredita que a ansiedade pode ser transformada de vilã em aliada.
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Transtorno de ansiedade x ansiedade "cotidiana"
Suzuki descreve esse tipo de ansiedade "cotidiana" como aquela inquietação persistente, que atrapalha o sono, dificulta a concentração em reuniões ou gera tensão diante de problemas familiares, profissionais ou financeiros. Mas, ao invés de tentar eliminá-la, a cientista propõe que a enfrentemos de frente — e com ciência.
No livro "Good Anxiety: Harnessing the Power of the Most Misunderstood Emotion" (Atria, 2021), a pesquisadora apresenta uma nova abordagem: usar a ansiedade como um catalisador para o crescimento. A obra combina estudos de neurociência, psicologia e experiências pessoais da autora para mostrar como esse sentimento desconfortável pode revelar necessidades não atendidas, aumentar o foco e até fortalecer nossa empatia.
Ela descreve seis "superpoderes" que a ansiedade pode ativar quando canalizada corretamente: resiliência emocional e física, desempenho aprimorado, mentalidade otimizada, maior produtividade, inteligência social elevada e criatividade expandida.
Confira dicas
Para ajudar as pessoas a transformar essa emoção em ação positiva, Suzuki oferece uma série de estratégias práticas. Entre elas:
Adote uma mentalidade ativista: em vez de apenas tentar "aguentar firme", mude sua perspectiva sobre o desconforto. Lembre-se de momentos difíceis que você já superou e use essa memória como ferramenta de fortalecimento.
Não ignore sentimentos negativos: fingir que está tudo bem o tempo todo pode ser contraproducente. A ansiedade serve como um alerta interno sobre o que importa para você — escute essa mensagem.
Transforme preocupações em ações: se sua mente está presa a pensamentos do tipo "e se?", transforme essas preocupações em itens concretos de uma lista de tarefas. Agir, mesmo que de forma simples, ajuda a aliviar a tensão.
Reduza o tempo diante das telas: o excesso de estímulo digital piora a ansiedade. Suzuki recomenda limitar notificações e trocar o tempo nas redes sociais por interações reais ou atividades que tragam prazer.
Use sua ansiedade como um caminho para a empatia: ao reconhecer suas próprias dificuldades, você se torna mais sensível às dos outros. A neurocientista acredita que isso pode reforçar laços sociais e trazer bem-estar para todos os envolvidos.
Ansiedade como impulso natural do cérebro
O diferencial da abordagem de Suzuki está em unir a ciência à vivência humana. Ela mesma enfrentou períodos de ansiedade intensa, como após a perda repentina de seu irmão. Foi a partir desses momentos que passou a enxergar a ansiedade não como uma falha pessoal, mas como um impulso natural do cérebro tentando protegê-la.
"Assim como um veleiro precisa do vento para se mover, o cérebro precisa de desafios para crescer", diz a pesquisadora. A chave, segundo ela, está em compreender o papel da ansiedade em nossas vidas, respeitá-la e aprender a usá-la como uma ferramenta de autoconhecimento e transformação.
Em um mundo cada vez mais acelerado e incerto, a mensagem de Suzuki é que o desconforto da ansiedade pode ser, na verdade, o primeiro passo para uma vida mais consciente, conectada e criativa.
*Com informações do Futurity