Corrida e prevenção de lesões: muito além do simples fortalecimento
Cuidar do corpo, da mente e do contexto é o que realmente evita lesões — e garante uma prática sustentável ao longo da vida

Brazil Health
Correr é um dos exercícios mais praticados no mundo. É acessível, eficaz para a saúde cardiovascular e emocional, e pode ser praticado em qualquer lugar. No entanto, é também uma das atividades com maior índice de lesões musculoesqueléticas, afetando entre 40% e 45% dos corredores, segundo uma revisão sistemática publicada por Kakouris et al. (2021).
+ Dia Mundial da Corrida: como começar a praticar e evitar lesões?
Diante desses números, a prevenção de lesões na corrida se torna mais do que necessária: é estratégica. E, ao contrário do que muitos pensam, essa prevenção não se limita a fortalecer os músculos ou usar o tênis certo — ela envolve uma compreensão ampla do corpo, da mente e do contexto em que o corredor está inserido.
+ Primeira meia-maratona do mundo com robôs humanoides é realizada em Pequim
Um dos pilares mais importantes para evitar lesões é o aumento gradual e inteligente do volume e da intensidade dos treinos. Correr além do que o corpo está preparado pode desencadear sobrecarga articular, tendinosa e muscular, levando a lesões como fasciite plantar, tendinopatia patelar e síndrome da banda iliotibial.
Uma revisão de práticas preventivas publicada por Linton, Culpan & Lane (2025) reforça que estratégias eficazes incluem:
- Programas de progressão gradual;
- Exercícios de fortalecimento funcional;
- Adaptação de técnica e cadência de corrida;
- Acompanhamento individualizado por profissionais qualificados
Lesão também é comportamental
Um aspecto que ainda recebe pouca atenção é o fator psicológico na ocorrência e na manutenção de lesões. Em estudo recente publicado no BMJ Open Sport & Exercise Medicine (Besomi et al., 2025), corredores e especialistas relataram que motivação excessiva, identidade ligada ao desempenho e pressão externa (redes sociais, treinadores ou grupos de corrida) são gatilhos que levam muitos atletas a ignorar os sinais iniciais de dor, agravando lesões que poderiam ser evitadas.
Os autores destacam que as decisões dos corredores são moldadas por suas crenças, experiências prévias e pela qualidade das informações que recebem — muitas vezes baseadas em senso comum ou “dicas” da internet. Nesse sentido, educação em saúde e escuta ativa por parte dos profissionais são tão importantes quanto qualquer técnica corretiva.
Monitoramento contínuo: formas de prevenção
Em vez de usar apenas avaliações pontuais (como testes de força ou mobilidade), especialistas como Jimenez & Verhagen (2025) defendem uma abordagem baseada em monitoramento contínuo e individualizado, que permita intervenções no momento certo, antes que a dor se instale. Isso pode incluir:
- Autoavaliação de cargas semanais;
- Monitoramento de sono, estresse e fadiga;
- Feedbacks objetivos sobre rendimento e recuperação.
Então, fica a dica: prevenir é conhecer, adaptar e respeitar seus limites fisiológicos e psicológicos.
Lesionar-se ao correr não é destino, é contexto. Prevenir lesões exige mais do que musculação e planilhas — requer autoconhecimento, respeito aos sinais do corpo e consciência de que fatores emocionais e sociais também influenciam nossas decisões.
A boa notícia é que, com planejamento, apoio profissional e informação de qualidade, é possível manter a corrida como uma prática segura, prazerosa e sustentável ao longo da vida.
*João Douglas Gil é fisioterapeuta e Head Nacional de Fisioterapia da Brazil Health Crefito 313198