Clínica de Belém é interditada após mutirão de catarata causar cegueira em pacientes
Mais de 20 pessoas foram infectadas por bactéria após cirurgias em clínica que agora é alvo de investigações e ação da Vigilância Sanitária
A Vigilância Sanitária interditou o centro cirúrgico e o setor de esterilização da clínica São Lucas, em Belém, após uma vistoria encontrar diversas infrações sanitárias, incluindo falhas nos protocolos de higiene e na esterilização de instrumentos. A estrutura da clínica também foi considerada inadequada para o volume de cirurgias realizadas durante o mutirão de catarata que deixou mais de 20 pessoas com danos oculares de diversas gravidades.
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As investigações sobre as falhas no mutirão de cirurgias de catarata feito pela clínica são conduzidas pela Delegacia do Consumidor (DECON), vinculada à Divisão de Investigação e Operações Especiais (DIOE). A São Lucas é acusada de causar infecções em 23 pacientes, das quais algumas resultaram na perda completa da visão e, em cinco casos, na necessidade de amputação de um dos olhos. O processo segue sob sigilo, com novas perícias e testemunhas sendo ouvidas.
O mutirão, que ocorreu no início de julho em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), afetou gravemente a vida de pacientes como Albanise Soares, que teve um olho amputado após contrair uma bactéria durante a cirurgia. "Eu não posso mais fazer nada sozinha", lamentou a paciente. Sua filha, Gabriela Soares, expressou indignação. "Minha mãe foi buscar qualidade de vida e agora está sem um olho."
Outras vítimas, como Benedita da Silva, também relataram a perda parcial ou total da visão. "Não consigo ler, nem ver televisão", contou a cozinheira, que esperou mais de um ano pela cirurgia. A filha de Benedita, Sheyla Costa, denunciou a falta de higiene no centro cirúrgico, afirmando que profissionais comiam no local e que havia insetos.
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O oftalmologista Lauro Barata explicou que, em mutirões como esse, o cumprimento rigoroso dos protocolos de esterilização é crucial. "Um material utilizado em um paciente não pode ser reutilizado em outro sem esterilização adequada", destacou.
A clínica São Lucas, em nota, afirmou que segue todos os protocolos de controle de infecção hospitalar e que está regularizada junto aos órgãos fiscalizadores. A instituição também mencionou que está oferecendo suporte médico e financeiro às vítimas, embora muitos pacientes tenham recusado os acordos e 11 tenham entrado com ações judiciais.
Além da Polícia Civil, o Ministério Público instaurou um procedimento para investigar as denúncias. O Conselho Regional de Medicina ainda não se pronunciou sobre o caso.