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Saúde

Butantan cria anticorpo de longa duração para proteger grávidas contra o vírus Zika

Experiência do Brasil com surto de Zika em 2015 e 2016 mostrou a rapidez com que o vírus pode se espalhar; saiba como vai funcionar o remédio

Imagem da noticia Butantan cria anticorpo de longa duração para proteger grávidas contra o vírus Zika
Instituto Butanta cria anticorpo contra vírus da Zika | Divulgação/Governo do Estado de SP
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O Instituto Butantan está desenvolvendo um medicamento para proteger gestantes contra o vírus Zika: anticorpos monoclonais (mAbs). A iniciativa tem como objetivo principal criar uma ferramenta de resposta rápida caso o Brasil enfrente novos surtos da doença, que em 2015 levou o país a declarar Emergência em Saúde Pública devido ao aumento de casos de microcefalia.

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A tecnologia é fruto de uma parceria com a Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, onde o imunologista brasileiro Michel Nussenzweig isolou e desenvolveu anticorpos humanos capazes de neutralizar o vírus Zika. O Butantan recebeu a licença para utilizar esses anticorpos e está adaptando a produção para atender à realidade brasileira.

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O projeto aposta em técnicas avançadas de engenharia genética para resolver um dos grandes desafios dessa estratégia: a curta duração dos anticorpos no corpo humano.

“Os anticorpos monoclonais, de maneira geral, permanecem cerca de três semanas na circulação. Para proteger uma gestação inteira com uma única aplicação, é necessário aumentar esse tempo de vida no organismo”, explica Ana Maria Moro, diretora do Laboratório de Biofármacos do Butantan e responsável pelo desenvolvimento da linhagem celular experimental.

O que são e como agem os anticorpos monoclonais?

Anticorpos monoclonais são proteínas produzidas em laboratório, projetadas para imitar a ação dos anticorpos naturais do organismo, mas com alta precisão contra um alvo específico, no caso, o vírus Zika. Eles já são amplamente utilizados em tratamentos contra câncer, doenças autoimunes e algumas infecções virais. A inovação do projeto do Butantan está em direcionar essa tecnologia para um uso preventivo, especialmente em populações vulneráveis como as gestantes.

Essa abordagem é chamada de imunização passiva: em vez de estimular o corpo a produzir anticorpos por meio de uma vacina, o organismo recebe os anticorpos prontos, garantindo proteção imediata. No contexto do Zika, essa proteção rápida é fundamental, já que o vírus pode causar danos irreversíveis ao sistema nervoso do feto, mesmo em mães assintomáticas.

O Butantan está aplicando técnicas de modificação genética nos anticorpos para aumentar sua durabilidade no corpo humano. O objetivo é que uma única dose, aplicada no início da gravidez, seja suficiente para proteger mãe e bebê durante toda a gestação.

“Estamos trabalhando com o conceito de uma imunização de longa duração. É um desafio biotecnológico, mas viável com as tecnologias de engenharia genética disponíveis”, afirma Moro.

A linhagem celular responsável por produzir esses anticorpos foi criada no próprio Instituto a partir de genes fornecidos pela Rockefeller. Inicialmente, a produção foi realizada em escala experimental, na Planta de Anticorpos Monoclonais (PAM) do Butantan. Agora, o foco está no aprimoramento dessa linhagem para garantir estabilidade, pureza e produtividade adequadas para os futuros estudos clínicos.

Por que isso é importante?

A experiência do Brasil com o surto de Zika em 2015-2016 mostrou a rapidez com que o vírus pode se espalhar em regiões com alta presença do mosquito Aedes aegypti. Em apenas dois anos, o país registrou mais de 260 mil casos prováveis da doença, além de um aumento drástico de bebês nascidos com microcefalia e outras anomalias congênitas.

Segundo Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, os anticorpos monoclonais são uma ferramenta estratégica de resposta emergencial.

“Uma epidemia de Zika ocorre em surtos muito rápidos. Precisamos ter soluções prontas para proteger as populações mais vulneráveis, especialmente as grávidas, que são as principais afetadas pelas consequências do vírus”, afirma.
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