Apneia: como identificar transtorno que causa "ausência de respiração" durante o sono?
Problema afeta um terço da população adulta e se relaciona com a posição dos ossos da face; veja como prevenir e tratar condição
Brazil Health
A obstrução da respiração, ou seja, parar de respirar durante o sono é um fator determinante no ronco e na apneia do sono, problema que afeta cerca de 33% da população adulta. A posição dos ossos da face – como a maxilar, a mandíbula e as estruturas dentais – desempenha papel crucial nesse processo. Por isso, o dentista pode ter um papel importante na avaliação da obstrução das vias aéreas superiores e no tratamento do ronco e da apneia do sono.
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Por que acontece o ronco?
A musculatura da garganta relaxa e a passagem do ar fica mais fechada. Essa obstrução promove a vibração dos tecidos da garganta quando o ar passa, provocando o característico som do ronco. Infelizmente, o ronco é um problema que atinge grande parte da população adulta, principalmente após os 40 anos de idade. Além de ser um problema social, que afeta os relacionamentos, pode ainda ser um sinal da apneia do sono. Muitas vezes, o paciente se queixa apenas do ronco e, ao passar por um exame de polissonografia, descobre que também apresenta apneia, sendo esta muito mais grave.
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O que é apneia obstrutiva do sono (AOS)?
A palavra apneia vem do grego e significa “ausência de respiração”. Imagine que, enquanto você está sonhando, seu corpo está pedindo socorro. A obstrução que acontece na região da garganta durante o evento de apneia é completa, e o nível de oxigênio no sangue vai diminuindo. A apneia do sono é um problema de saúde que afeta milhões de pessoas no mundo todo. Ela pode acometer crianças e adultos em qualquer idade, desde bebês até idosos. Ao contrário do que acontece durante o ronco, quando a obstrução é parcial, na apneia a obstrução das vias aéreas é completa e ocorre por um tempo maior que 10 segundos no caso de pacientes adultos.
A apneia é considerada leve quando ocorre até 15 vezes em uma única hora de sono e grave quando ocorre mais de 30 vezes por hora de sono. Quanto maior o número de apneias, mais grave é o problema e piores são as consequências para o organismo.
Para reabrir a via aérea, o cérebro provoca um despertar breve, muitas vezes sem que a pessoa perceba, interrompendo o sono profundo e reparador.
Estudos afirmam que pessoas com apneia têm cinco vezes mais chance de sofrer infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVC). Além disso, 30% dos pacientes podem desenvolver hipertensão arterial. A qualidade do sono também é prejudicada, e algumas pessoas apresentam sonolência diurna excessiva e dificuldade de concentração, o que aumenta as chances de acidentes automobilísticos e no trabalho.
Além disso, a apneia do sono também está relacionada a:
● Doenças cardiovasculares;
● Dores de cabeça ao acordar;
● Mau humor;
● Irritabilidade;
● Ansiedade;
● Depressão;
● Diabetes;
● Diminuição da libido.
As principais causas da apneia obstrutiva do sono no paciente adulto são a obesidade, as alterações craniofaciais (mandíbula menor ou retraída), a idade avançada (pela flacidez dos músculos da garganta), o uso de álcool e sedativos, entre outros fatores.
Como tratar a Apneia Obstrutiva do Sono (AOS)?
O tratamento inclui terapias combinadas e visa melhorar a qualidade do sono, reduzir os sintomas e prevenir complicações. O melhor tratamento será indicado pelo médico do sono, após o diagnóstico realizado por meio da polissonografia. Muitas vezes, mudanças de hábitos já ajudam a melhorar o padrão de sono. Em outros casos, são necessários tratamentos específicos, realizados pelo dentista do sono, médico do sono e outros profissionais da saúde.
O dentista certificado em odontologia do sono pode oferecer tratamentos para crianças nas especialidades de ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares. No caso dos pacientes adultos, o tratamento é diferente, sendo os mais indicados:
1. Aparelho de Avanço Mandibular: aparelhos odontológicos que mantêm a mandíbula avançada para liberar a passagem do ar, facilitando a respiração durante o sono;
2. Expansão da Maxila: procedimento ortodôntico para tratar a atresia maxilar (céu da boca estreito). Pode ser realizado com ou sem cirurgia, dependendo da idade do paciente. Tem o objetivo de promover o aumento transversal da base óssea maxilar por meio da abertura da sutura palatina mediana;
3. Cirurgia Ortognática: correção da estrutura facial que aumenta o espaço da via aérea superior, pelo avanço da mandíbula e da maxila.
Além dos tratamentos realizados pelo dentista do sono, é importante citar as cirurgias otorrinolaringológicas – como septoplastia, turbinoplastia, uvulopalatofaringoplastia, entre outras –, como opções eficazes para tratar a apneia do sono, especialmente em casos graves ou com obstrução nasal ou faríngea. Também são recomendados exercícios para o fortalecimento dos músculos respiratórios, perda de peso, mudanças no estilo de vida (evitando o álcool, sedativos, cafeína e fumo).
Ainda merece destaque o tratamento considerado "padrão ouro” com a utilização do aparelho de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP, Continuous Positive Airway Pressure), que fornece fluxo constante de ar sob pressão e mantém as vias aéreas abertas durante o sono.
A Odontologia do Sono
É uma área da Odontologia que atua no diagnóstico, prevenção e tratamento de condições de saúde bucal que afetam o sono, como bruxismo, ronco e apneia obstrutiva do sono. Apesar de não ser considerada uma especialidade, essa área de atuação requer que o cirurgião-dentista seja capacitado e tenha conhecimento sobre a fisiologia do sono, diagnóstico dos distúrbios do sono e que atue de forma multidisciplinar no tratamento dessas condições.
O tratamento da apneia do sono com aparelho intraoral (AIO) é hoje um dos mais indicados, sendo eficiente na maioria dos casos (graus de apneia leve a moderada). Ele avança a mandíbula para frente, tracionando os tecidos da garganta, aumentando a passagem do ar e evitando a abertura bucal durante o sono, quando a musculatura é relaxada. Assim, o paciente recupera o calibre da via respiratória e volta a dormir bem.
A apneia do sono é um distúrbio que requer diagnóstico precoce e tratamento adequado. O dentista do sono desempenha um papel fundamental na avaliação e no tratamento desses casos, trabalhando em conjunto com otorrinolaringologistas, pneumologistas e outros especialistas para melhorar a qualidade do sono e reduzir complicações sérias para a saúde, tanto a curto quanto a longo prazo.
* Cláudio Pinho é odontologista credenciado pelo CRO | DF 4315