Dois em cada 10 brasileiros infectados pela Covid relatam sequelas, aponta pesquisa
Estudo do Ministério da Saúde revela impacto persistente da Covid-19 em saúde, renda e educação da população
Mayra Leal
Uma pesquisa inédita do Ministério da Saúde divulgada nesta quarta-feira (18) revelou que 19% dos brasileiros que contraíram Covid-19 relatam sequelas persistentes, como cansaço, dificuldade de concentração, perda de memória e ansiedade. Esses dados abrangem cerca de 60 milhões de pessoas, o equivalente a 28% da população que foi infectada pelo vírus.
Guto Risuenho, que perdeu o pai, Ângelo, para a Covid-19 no início da pandemia, é um exemplo do impacto devastador da doença. "Foi uma coisa que pegou a gente de surpresa. Não tínhamos ideia de como esse vírus escalonaria", afirmou. Ele está entre os 15% de brasileiros que perderam familiares por complicações da doença.
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Além das consequências para a saúde, a pandemia também deixou marcas profundas na vida social e econômica. Segundo o levantamento, 48,6% dos brasileiros tiveram redução de renda e 47,4% enfrentaram insegurança alimentar. A pesquisa ainda apontou que 34,9% perderam o emprego e 21,5% precisaram interromper os estudos. Essas taxas foram mais expressivas nas famílias de menor renda.
Para o pesquisador Pedro Hallal, da Universidade de Illinois-Urbana, os impactos da pandemia evidenciaram desigualdades pré-existentes no país. "Todos esses impactos, exceto a morte de familiares, foram mais frequentes nas famílias mais pobres", afirmou.
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O médico virologista Caio Botelho acrescenta que a ansiedade, identificada em muitos dos entrevistados, pode ser consequência tanto da incerteza em torno da evolução da pandemia quanto das medidas de isolamento social. “Os efeitos tardios da pandemia estão relacionados também ao impacto psicológico causado pelos lockdowns e pela falta de informações precisas sobre o vírus”, explicou.
A pesquisa destacou, ainda, que as taxas de hospitalização foram mais altas entre pessoas de baixa renda, reforçando a necessidade de políticas públicas voltadas a mitigar as desigualdades evidenciadas e intensificadas pela pandemia.