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AVC: estudo mostra que micropartículas de poeira e poluição podem contribuir para ocorrências da doença

Dia Mundial de Prevenção ao Acidente Vascular Cerebral é celebrado nesta terça (29); reportagem especial mostra histórias de quem teve e superou o AVC

AVC: estudo mostra que micropartículas de poeira e poluição podem contribuir para ocorrências da doença
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Esta terça-feira, 29 de outubro, marca o Dia Mundial de Prevenção ao Acidente Vascular Cerebral. O AVC é uma das doenças que mais faz vítimas no país e um estudo recente apontou que até micropartículas, como poeira e poluição, podem contribuir para ocorrências da enfermidade.

+ Repórter que sofreu AVC fala da doença e como foi a recuperação

Para a assistente social Mariana Capelas, foi preciso enxergar que a vida mudou de um dia para o outro, se perguntando o porquê e como seria dali para frente. Com 34 anos, ela sofreu um AVC há seis meses e tenta reaprender tarefas que, antes, eram simples. Mesmo diante das dificuldades, Mariana não vai desistir fácil: Já aceitei minha limitação, sei que aconteceu e eu não posso mudar o que aconteceu, e agora vou lutar para reabilitar”.

Repetição, repetição e repetição

Mariana sofreu um AVC isquêmico, ficando 12 dias internada, sendo sete na UTI. Uma artéria se rompeu e o sangue não chegou até o cérebro, causando uma lesão. Os neurônios da região “morreram” e, agora, é preciso “confiar na neuroplasticidade, que é o cérebro criar novas conexões neurais para substituir esses que morreram”, conta.

Na fisioterapia, são sessões de segunda a sexta, em um processo lento e muitas vezes doloroso. “O mais difícil é o movimento da mão, o dedo ainda fecha um pouco, mas não abre e eu não tenho o movimento de pinça. Então, o que dificulta eu pegar algum objeto", explica Mariana.

O segredo para tentar recuperar? “Repetição, repetição e repetição. Fisioterapia é cansativo para o paciente, as vezes é chato fazer porque é todo dia a mesma coisa, mas através da repetição que a gente vai criando essa memória muscular, né? E vai ensinando esse cérebro de novo a trabalhar”, diz a fisioterapeuta Bruna Martins.

Partículas de poluição podem causar AVC

O AVC ocorre de forma súbita. No tipo isquêmico, uma artéria ou vaso são obstruídos, impedindo a passagem de oxigênio e matando parte das células cerebrais. Já o tipo hemorrágico ocorre quando um vaso se rompe dentro do cérebro, causando sangramento e, às vezes, inchaço. Os dois são conhecidos como derrame.

Atualmente, 110 milhões de pessoas no mundo vivem com sequelas provocadas pelo AVC, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença é a principal causa de morte no Brasil: sete pessoas morrem por hora, segundo a Sociedade Brasileira de AVC.

Já um estudo recente apontou uma realidade que assusta: pela primeira vez a poluição do ar foi considerada um fator de risco para o AVC. Gases emitidos pelos veículos, resíduos industriais e queima de combustíveis são fatores que estamos expostos, contribuindo para a incidência da doença.

São micropartículas que sequer vemos, mas respiramos. “Acabam grudando nas paredes dos pulmões. Isso provoca uma inflamação, e essa inflamação por algum motivo desencadeia outras coisas no nosso organismo e pode levar à hipertensão arterial, endurecimento dos tecidos, colesterol alto, surgimento de placas de gordura no nosso corpo em determinados vasos e isso são fatores muito conhecidos ao serem relacionados ao AVC”, explica Maramelia Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de AVC.

Crianças são cada vez mais vítimas de AVC

A doença também tem acometido cada vez mais crianças. Segundo o Ministério da Saúde, em 2023 foram realizados quase 18 mil atendimentos a meninas e meninas menores de 12 anos, vítimas do AVC. Ficaram internadas 389 e só nos seis primeiros meses de 2024, quase 11,5 mil crianças foram socorridas, com 216 hospitalizações.

O pequeno João Victor, de nove anos, sofreu um AVC hemorrágico nos primeiros minutos de vida. Essa batalha foi acompanhada pela repórter Flavia Travassos, também vítima de um AVC. Quase dez anos depois, o menino ainda faz fisioterapia, com plena recuperação, mas com uma lesão que prejudicou o lado cognitivo.

"A lesão do João fica em uma área do cérebro que é responsável pela memória. Então o João está ali e tem um repertório ótimo, ele tem uma participação excepcional nas aulas, porém, acabou aquilo, ele esquece e amanhã é outro dia mesmo", explica a psicopedagoga Rosângela Rodriguez.

Segundo Rafaela Batalhote, mãe de João, o menino pode ter sofrido o AVC por conta de um distúrbio de coagulação, causado por um remédio usado durante a gestação. Rafaela teve crises epiléticas por conta de estresse e ansiedade, sendo medicada com anticonvulsante. João nasceu com plaquetas baixas e o AVC pode estar relacionado, além da trombofilia que Rafaela teve.

Para João, o maior desafio é aprender a ler: “Ler cursiva, ler letra diferente. Só de letra bastão sou bom. Porque eu não consigo entender a palavra. E eu tenho dificuldade e não consigo ler”, conta o pequeno. Se ele desiste? “Não, nunca”, afirma.

“Tempo perdido é cérebro perdido”, diz neurologista

A repórter Flavia Travassos também não desistiu após sofrer um AVC hemorrágico aos 36 anos, em 2014. Ela estava na companhia de duas amigas, que viram quando a perna da jornalista, que estava cruzada, “caiu”. Flavia foi levada a um hospital em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, ficando internada por 30 dias. A causa foi uma má formação em uma veia no cérebro. Ter reconhecido os sintomas e o socorro rápido foram fundamentais para a recuperação.

O cérebro tem dois hemisférios, com o direito comandando o lado esquerdo do corpo e o hemisfério esquerdo comandando o lado direito. Dentro, diferentes regiões controlam cada parte do corpo e, por isso, s sequelas de quem sofre um AVC são perda da visão, da fala ou dos movimentos dos braços ou das pernas. No caso de Flavia, o pé esquerdo que parou de mexer.

“Existe um termo que a gente trabalha com AVC, que a gente utiliza muito: ‘tempo perdido é cérebro perdido’. Então, o tratamento do AVC é uma urgência médica. Quanto mais precoce a gente realizar o tratamento, a gente aumenta a chance de melhorar. Isso não quer dizer que eu tenho tempo para fazer. Por exemplo, o AVC isquêmico, existe um remédio que é o trombolítico, que a gente pode fazer em quatro horas e meia. Mas se eu fizer com 30 minutos do início dos sintomas, a probabilidade desse paciente se recuperar é muito maior do que o que fizeram com quatro horas", explica o neurologista Fernando Cardoso.

Superar o medo e acreditar que é possível conviver com as limitações são questões que quem teve um AVC entende que é o único caminho. “Com ele eu aprendi a respeitar mais as pessoas e a ter mais paciência e ser mais calmo”, diz Davi Borges, de nove anos, que estuda com o pequeno João Victor.

João também entendeu tudo. Quando perguntado sobre se sentir feliz, o menino é convicto: “Sim, claro né! Tô vivo!”.

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