Operação no Rio acirra ânimos em Brasília e provoca bate-boca em comissão da Câmara
Embate na Comissão de Segurança Pública reflete disputa de narrativas; PSOL aciona Edson Fachin, relator da 'ADPF das favelas' para discutir ação policial


Vicklin Moraes
A megaoperação realizada nesta terça-feira (28) nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, intensificou o embate político em Brasília e provocou bate-boca na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados. O saldo da ação ainda está sendo atualizado, mas já há registro de ao menos 64 mortos, incluindo 4 policiais, e 81 presos, segundo o governo estadual.
Durante a sessão em Brasília, a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) e o presidente da comissão, deputado Paulo Bilynskyj (PL-RJ), travaram uma discussão acalorada quando o parlamentar encerrou a reunião antes da fala da deputada, que estava inscrita.
“Sabe o que não é bom? Matar gente. Matar 70 pessoas no Rio de Janeiro, inclusive policiais. Sabe o que não é bom? Um modelo de segurança pública fracassado”, disse Talíria.
“Seu presidente é conivente com o tráfico. Amigo de ditador. Amigo do Maduro”, reagiu Bilynsky
Guerra de narrativas
As declarações na Câmara dos Deputados hoje seguiram o clima de confronto político instalado após a megaoperação no Rio. O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), afirmou que fez um pedido de ajuda ao governo federal, mas que a solicitação foi negada.
A fala foi rebatida pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que afirmou que nenhum pedido foi recusado, porque, segundo ele, o governador sequer formalizou qualquer solicitação.
O líder da oposição ao governo na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), fez críticas ao Planalto. “A oposição se solidariza com os policiais mortos e feridos. O desgoverno de Lula precisa escolher de que lado está: do cidadão ou do bandido", afirmou o deputado.
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Já o líder do governo na Casa parlamentar, deputado José Guimarães (PT-CE), defendeu a PEC 18/2025, conhecida como PEC da Segurança Pública, proposta pelo Planalto para reorganizar a estrutura nacional de segurança, reforçar a Polícia Federal e ampliar ações de inteligência, incluindo financeira. “Os tristes e violentos episódios desta terça-feira no Rio reforçam a urgência de um novo pacto pela segurança pública no Brasil”, afirmou.
Governistas defendem a aprovação PEC de Segurança Pública, enquanto a oposição critica a ADPF 635, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que impôs regras para operações em comunidades.
🔎A ADPF 635, conhecida como “ADPF das Favelas”, foi ajuizada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Supremo Tribunal Federal (STF) em 2019 e questiona a atuação violenta das forças de segurança do Rio de Janeiro nas comunidades. A ação pede medidas para reduzir a letalidade policial e garantir o respeito aos direitos humanos. Em 2020, o STF determinou restrições às operações policiais durante a pandemia de Covid-19, exigindo justificativas excepcionais e comunicação prévia ao Ministério Público.
O deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) afirmou que o partido está articulando uma reunião com o ministro Edson Fachin, relator da ADPF 635 no STF, para discutir a operação. Ele também disse que prepara, ao lado da deputada Renata Souza (PSOL-RJ), uma denúncia ao Comitê Interamericano de Direitos Humanos.
“O que está acontecendo no Rio hoje é bizarro. É política de massacre. O Estado assume o papel de reprodutor da violência e do caos. Isso não tem nada a ver com proteger a vida do nosso povo nem enfrentar o crime organizado”, afirmou Vieira.









